É comum ouvirmos alguém relembrar a infância com um sorriso no rosto. É quando frases como “eu jogava bola na rua com meus amigos”, “vivia descalço sujo de barro” ou “andava de bicicleta por aí” aparecem. Logo depois o rosto dessas pessoas esboça uma certa melancolia seguida da frase “bem diferente da infância de hoje” ou “essa juventude que não sai do celular”. Mas será que a presença da tecnologia na infância não deixará memórias tão marcantes quanto nós, adultos, tivemos?

Ah, as memórias… .

Um ponto importante para a discussão é que o cérebro é programado a guardar algumas memórias sob uma camada de afetividade, isso é um certo mecanismo de sobrevivência que contribui para a nossa positividade e esperança por dias tão bons quanto “outrora”. Em outras palavras, de forma geral temos uma certa idealização com o nosso passado, principalmente o mais longínquo, que de alguma forma, pareciam melhores do que os tempos atuais. (Claro, que guardadas as devidas proporções, sabemos que existem diversas infâncias pautadas em dificuldades de diferentes naturezas). 

Mas além disso, nós vivemos repetindo certos padrões de comportamento, ou seja, de forma inconsciente, nós gostaríamos de fornecer uma infância aos nossos pequenos similar à nossa.

Mas será que as crianças de hoje têm uma infância menos agradável que a nossa?.

De acordo com a Pesquisa sobre “Felicidade na Infância”, realizada por Giacomoni, Souza e Hutz, pesquisadores de Psicologia da UFRG, a resposta é não. A infância de hoje é bastante feliz sim. O estudo, realizado com 200 crianças de escolas públicas e privadas de Porto Alegre, mostrou que, em geral, a origem da felicidade está no coração e nos afetos e emoções. 

Assim, é fundamental refletir: se as crianças de hoje passam cerca de cinco a sete horas entre tablets, videogames e celulares (dados da American Heart Association) e a felicidade está intimamente ligada aos afetos e emoções, quais sentimentos essas crianças estão experienciando nessas interações? 

Esses podem ser, de fato, momentos de trocas, e descobertas, que favorecem a felicidade. Assim, se bem utilizada, mediada e aproveitada, a tecnologia pode fazer com que, essa geração daqui dez anos se lembre de conversas com amigos, e não do tablet que foi apenas o meio, de ter aprendido a escrever certa palavra junto a um jogo, ou a de ter descoberto que queria ser arquiteto, após realizar inúmeras casas e construções em um aplicativo. 

O que queremos dizer é que a memória estará pautada nos resultados e não nos meios.

Mas como nós, pais e educadores, podemos otimizar essa relação com a tecnologia? Como conseguimos, cada vez mais, colocar as telas como meio e não como fim, e usá-las para unir e não separar?

Já que seu pequeno adora o tempo despendido em frente às telas, que tal usá-lo para ajudar na criação de vínculos, como assistir um filme juntos, ou jogar o jogo favorito do seu pequeno. Ou ainda criar momentos em que todos recorrem à tecnologia para descobrir algo novo e trocar.

Uma proposta de equilíbrio.

Mesmo respeitando as gerações, equilíbrio entre as atividades é fundamental. Que tal convidar o seu filho para também viver um pouquinho da infância que você, pai, teve e trocar um pouco os papéis, revisitar aquele brinquedo favorito e tirar da gaveta o jogo de tabuleiro? Afinal, respeito, entendimento e equilíbrio são fundamentais para que nossas crianças continuem sentindo essa felicidade comprovada por pesquisa, e que, lembre-se, provém, majoritariamente do afeto!

Fonte: https://leiturinha.com.br/