Possuidor de um talento artístico incrível e apaixonado pelo que faz. Fernando Pires iniciou sua carreira na Arquitetura antes de descobrir que o seu lugar ao sol seria mesmo confeccionando sapatos. Mesmo não planejando trilhar essa trajetória de sucesso como designer, o destino mudou seu caminho para então brilhar como um verdadeiro artista. Hebe Camargo, Cláudia Raia e até mesmo a diva Madona estão entre as clientes consumidoras de suas verdadeiras obras primas do mundo da moda. Inspiração não falta para criar quando se ama o que faz, e esse amor é tão grande que ele se considera um verdadeiro workaholic. Os compromissos são muitos, a responsabilidade maior ainda. Ser um formador de opinião nos objetos de desejo mais cobiçados pelas mulheres não é tarefa fácil. Já para os que acham que só o público feminino possui uma Cinderela apaixonada por sapatos dentro de si, irá se surpreender com os detalhes sobre a procura masculina por essas maravilhas. Tudo isso e muito mais você confere agora diretamente de São Paulo para Manaus:
Fernando, conte-nos um pouco como foi seu início:
Olha, eu sou arquiteto de formação e eu nunca pensei em iniciar a criação de sapatos. Eu comecei brincando, fazendo um par com uma cliente que eu tinha acabado de projetar a casa. Ai fizemos um, vendeu, de um fizemos dois, de dois quatro, de quatro dezesseis, foi multiplicando e essa multiplicação foi acontecendo aqui dentro também e fui me apaixonando. Quando eu percebi já estava “do outro lado do muro”, já tinha pulado para o mundo dos sapatos. Essa paixão dura até hoje, eu amo fazer sapatos, ver que as mulheres gostam e desejam o que eu faço, isso é maravilhoso.
Sapato plataforma está no seu DNA de criação?
Sim, porque eu comecei a brincadeira das plataformas em 1990, na época eu tinha uma sociedade com essa senhora que iniciei as criações. Eu costumo brincar que foi ela que me desviou do caminho né, eu estava na arquitetura e ia seguir. Até que depois de terminada a obra em sua casa ela virou e disse “Você podia mexer com moda, você leva jeito”. Ai eu disse que até já tinha feito alguma coisa na moda, porque eu paguei a minha faculdade desenhando roupa. Minha mãe costurava e eu vendia nas boutiques de Santos, mas depois eu fui pra arquitetura e nem pensei mais nisso. Ai ela disse “Eu penso em sandálias”, e foi aí que tudo mesmo começou.
Na visão de um designer de sapatos de muito sucesso. Sapatos são mesmo um dos maiores objetos de desejo da mulher?
Com certeza. Sapato ainda é o objeto mais desejado pelas mulheres, até mais do que os homens. Acho que elas trocam o namorado por um par de sapatos tranquilo. (risos) E eu acho que a grande culpada disso é a Cinderela, porque quando você nasce você já tem uma história infantil de contos de fadas onde com um par de sapatos de cristal você ganha um príncipe encantado e um castelo né. Então a menina já fica desde cedo sonhando com um sapatinho de cristal, isso cria o desejo que ela leva para resto da vida. No homem não tem isso, não tem uma história de um “Cinderelo”, apesar de alguns também serem bem “Cinderelos” mesmo, apaixonados por sapatos. (risos)
Fernando, de todas as suas clientes super famosas que usam suas coleções, você poderia citar algumas que são musas para você?
Hebe com certeza foi uma musa pra mim sempre, ela era uma garota propaganda na verdade mas me inspirava em muita coisa. Era uma sintonia tão grande que às vezes eu fazia um sapato e pensava “Nossa isso tá bem a cara da Hebe”, ai eu levava até a casa dela e ela já me ligava em seguida me chamando “Canalha, como é que você sabia que eu precisava desse sapato pra amanhã?”. Ai eu via ela no dia seguinte usando no programa este, por exemplo, era um que tinha uma rosa bordada e ela estava usando um corsete com uma rosa idêntica e ela não sabia com o que usar. Outra musa também é a Cláudia Raia, que é a minha madrinha. Uma também que me inspira muito mas não é minha cliente assídua, é claro, apesar de ter muitos sapatos meus é a Madona. Eu acho que uma foto dela me inspira, um clipe, uma música, eu sigo ela no instagram né e sempre tem um detalhe que vejo que da pra fazer algum sapato.
Falando em inspirações, qual é o momento que mais lhe inspira?
Existe pressão e muita pressão de data. Eu deixo sempre pra última hora né como todo brasileiro, (risos) o que eu faço com muita antecedência chega uma hora que você já cansa de ver aquilo na sua frente, ai as vezes eu vou desgostando e falo “Não é mais isso”. Então quando chega próximo a pressão de ter que fazer me deixa mais solto, mais criativo. No meu caso ter muito tempo pra fazer me tira um pouco da criatividade.
A moda antigamente era combinar sapato, cinto, bolsa. Hoje em dia da pra combinar peças de cores diferentes sem errar?
Deve né, eu acho que conjuntinho Nevermore. Até hoje em dia quando a gente vê alguém de conjuntinho estranha né, mas ainda acontece, tem gente que ainda acha que tem que combinar o cinto com o sapato, bolsa com o cinto e aí você leva um choque né. Antes era super normal, hoje você pode botar um sapato liso com uma bolsa estampada ou vice e versa. Se você olhar no espelho e falar “Acertei, bingo”, saia, não tenha medo e vá embora.
Qual foi o momento mais marcante na sua carreira?
Olha, eu acho que foi 2 dias depois do show da Madona em São Paulo em 1993. Eu estava naquele dia na chácara de uma amigo aqui perto de São Paulo, estávamos tomando café da manhã na piscina e o Cícero estava na minha frente com o jornal “O Estado de São Paulo” aberto e ele começou a ler que a Madona tinha chegado no Rio de Janeiro e que saiu pra jantar em um restaurante tal, que estava com um vestido preto “basiquinho” que não chamava nada a atenção, mas a única coisa que destacava eram as sandálias plataforma que ela estava usando. Quando ele falou isso eu peguei o jornal e virei pra mim e me deparei com a minha sandália. Esta o irmão dela tinha ido na loja buscar pra ela. Eu tinha dado quatro pares no dia do show e no dia seguinte ele foi conhecer a loja e falou “Ela amou os sapatos, ela queria muito vir aqui conhecer a loja mas ela não consegue sair do hotel porque tem muitas pessoas lá em frente”. Ai ele bateu o olho nesta sandália e disse “Nossa, isso é a cara dela”, ai eu disse “Leva”. O interessante é que a Hebe tinha profetizado um mês antes dizendo que se a Madona visse aquela sandália ela iria ficar louca, e acabou virando a sandália da Madona né, fiquei um ano inteiro fabricando o mesmo modelo. Esse foi o momento mais mágico pra mim, ter atingido os pés dessa mulher que é uma diva, uma deusa.
Fernando Pires x Fernando
Um workaholic, que adora trabalhar, desenhar. Hoje mesmo eu acordei as 5 da manhã, perdi o sono e fui lá pra mesa para criar. É o que me tira um pouco fora da terra, do uma viajada, fico imaginando a mulher que vai usar aquele sapato.
Como você vê toda essa globalização e o mundo da internet. Isso somou algo ao seu trabalho?
Com certeza né, no mundo inteiro acho que quem trabalha com qualquer produto. Hoje te acessam de qualquer canto do mundo né. Isso é meio louco porque as vezes você escuta alguém falar “Nossa, aqui em Miami você é super conhecido”, ué como? Eu não tenho produtos lá né. Isso tudo é devido a internet, mídias, enfim, acho que tudo isso só somou.
Uma frase:
(Pensativo) Ah, eu estou precisando muito de sombra e água fresca. (risos) Essa é a frase! Porque ser um workaholic, adorar o que faz, eu não paro né. Então assim, eu precisava de férias. Ir pra Parintins, ver o espetáculo. Eu viajo muito, mas volto cansado das viagens, acredita? Sempre tem muitos compromissos, entrevistas, almoços, etc. Ai você chega em casa morto. Então o precisar de férias é relativo né, tem que ser férias mesmo, até porque já está provado que você saindo de férias só consegue se desligar do teu trabalho depois de 10 dias, eu fico geralmente três, quatro, então não conta né.