Por Dra. Ana Paula Amanajás
Querida leitora, continuamos nossa jornada de autocuidado e autoconhecimento. Nas
últimas semanas, falamos sobre a importância de estabelecer limites e compartilhei
exercícios práticos para implementá-los no dia a dia. Hoje, conforme prometido,
vamos desmistificar algo que a sociedade nos vendeu como uma qualidade
extraordinária, especialmente para nós mulheres: a capacidade de fazer múltiplas
tarefas simultaneamente.
“Multitasking queen”, “mãe que dá conta de tudo”, “a executiva que responde e-mails
enquanto participa da reunião e planeja o jantar”. Soa familiar? Provavelmente você já
recebeu esses “elogios” ou já se vangloriou por conseguir fazer mil coisas ao mesmo
tempo. Mas, como médica especializada em neurociência, preciso compartilhar uma
verdade incômoda: seu cérebro não foi projetado para funcionar dessa maneira – e
está sofrendo silenciosamente com isso.
Pesquisas recentes em neurociência cognitiva revelam algo surpreendente: o
multitarefas não existe. O que realmente acontece é que seu cérebro alterna
rapidamente entre uma tarefa e outra, em um processo chamado “task switching”
(alternância de tarefas). E essa alternância constante tem um custo cognitivo
altíssimo, que os cientistas chamam de “switching cost” ou “custo de alternância”.
Cada vez que você interrompe uma tarefa para verificar uma mensagem no celular e
depois retorna ao trabalho original, seu cérebro precisa reorientar-se completamente.
Estudos mostram que podemos perder até 40% de nossa produtividade nesse
processo de reorientação constante. É como se você estivesse continuamente ligando
e desligando diferentes circuitos neurais – algo extremamente desgastante.
Mas os danos vão além da produtividade. O multitarefas crônico está associado a
níveis elevados de cortisol (popularmente conhecido como o hormônio do estresse),
diminuição da capacidade de memória, dificuldade de concentração e, em casos mais
graves, contribui significativamente para quadros de ansiedade e depressão. Quando
seu cérebro opera constantemente no modo “alerta máximo”, sem momentos de focoprofundo ou descanso adequado, as estruturas responsáveis pela regulação
emocional começam a apresentar alterações.
Tenho observado em meu consultório um fenômeno alarmante: mulheres na faixa dos
40-50 anos chegando com queixas de “falhas de memória precoce” e “sensação de
névoa mental”. Muitas temem estar desenvolvendo demência, quando na verdade
estão sofrendo as consequências neurológicas do multitarefas crônico combinado
com privação de sono – uma combinação devastadora para a saúde cerebral.
O mais irônico? Esse comportamento que nos foi vendido como eficiência é, na
verdade, profundamente ineficiente. Estudos da Universidade de Stanford
demonstraram que pessoas que habitualmente realizam múltiplas tarefas são, na
realidade, piores em filtrar informações irrelevantes, mais propensas a distrações e
menos eficientes na alternância entre tarefas do que aquelas que costumam focar em
uma atividade por vez.
Então, como podemos desaprender esse hábito tão arraigado? Começando com
pequenas mudanças:
1. 2. 3. 4. 5. Pratique o “monotarefas”: Escolha uma atividade diária (como tomar café da
manhã ou responder e-mails) e faça APENAS isso durante 15 minutos. Sem
celular, sem TV, sem planejar mentalmente o dia. Apenas aquela tarefa.
Observe como seu cérebro resistirá inicialmente.
Implemente blocos de tempo: Divida seu dia em blocos dedicados a tarefas
específicas. Durante aquele bloco, comprometa-se a focar apenas naquela
categoria de atividade.
Crie rituais de transição: Pequenas pausas entre tarefas importantes ajudam
seu cérebro a “mudar de marcha” adequadamente. Um minuto de respiração
profunda, um copo d’água, uma breve caminhada pela sala – qualquer coisa
que sinalize ao cérebro: “estamos mudando de contexto agora”.
Reduza as notificações: Seu celular não precisa te alertar sobre cada e-mail,
mensagem ou curtida. Reserve momentos específicos para verificar
comunicações e desative notificações durante períodos de concentração.
Pratique atenção plena: Meditação e técnicas de mindfulness treinam seu
cérebro para permanecer no momento presente – uma habilidade fundamental
para contrapor a fragmentação da atenção causada pelo multitarefas.
Essa semana atendi uma paciente muito querida e que com certeza vai inspirar você
também! Executiva de 43 anos, relatou uma transformação notável após três meses
praticando o “monotarefas”. Com o manejo adequado, não apenas sua produtividade
aumentou, mas sintomas como insônia, palpitações e crises de ansiedade diminuíramsignificativamente. “É como se meu cérebro tivesse finalmente relaxado depois de
décadas em estado de alerta”, descreveu ela.
Lembre-se: nosso cérebro é um órgão extraordinário, mas tem limitações biológicas
que nenhuma expectativa social pode alterar. Respeitar essas limitações não é
fraqueza – é inteligência emocional e autocuidado no mais alto nível.
Na próxima semana, abordaremos como os padrões de sono inadequados estão
silenciosamente sabotando nossa saúde mental e física – e como recuperar noites
reparadoras mesmo em meio a uma vida agitada.
Até lá, experimente pelo menos uma das técnicas que compartilhei e observe como
seu cérebro responde. Estou ansiosa para ler seus relatos!
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Com carinho e cuidado, Dra. Ana Paula