Goiânia é uma cidade mais preparada para as pessoas ou para os carros?

Principais obras de infraestrutura de mobilidade na capital goiana são feitas para veículos automotores, mesma a cidade sendo plana e arborizada; arquiteto e urbanista chama a atenção sobre o assunto e está à disposição para entrevistas

Goiânia tem uma das maiores frotas entre as capitais brasileiras, é a sexta em número de veículos automotores. Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito, até março deste ano, eram mais de 1,2 milhão de unidades, das quais mais de 806 mil são automóveis e caminhonetes, e 319 mil são motocicletas ou motonetas. Levando em consideração uma população de 1,5 milhão de pessoas, segundo o IBGE, a capital possui praticamente um veículo automotor (1,3) por habitante. Nesta semana em que celebramos o Dia Mundial Sem Carro (22/09) e o Dia do Trânsito (25/09), vale a pena os goianienses pensarem um pouco sobre sua relação com os carros e motos e o quanto a cidade está mais preparada para uma mobilidade mais humana e sustentável.

Para o arquiteta e urbanista Paulo Renato Alves, mesmo com o surgimento de modais de transporte alternativos, como os veículos eletrificados leves (motos e patinetes elétricos) e uma adesão maior pelo uso da bicicleta, ainda hoje os automóveis e motos ditam a ocupação e o planejamento urbano das cidades brasileiras, na capital inclusive. “Goiânia é uma cidade plana e bem arborizada, que favorece a caminhabilidade e o uso da bike. Mas apesar disso, as principais obras de infraestrutura de mobilidade que são feitas na cidade são para veículos automotores, como os viadutos. É um equipamento urbano que de fato melhora a fluidez do trânsito de carros, motos e ônibus, mas quanto mais espaços você dá para os veículos automotores, mais espaço você tira dos pedestres e dos ciclistas, sem falar na questão da poluição”, avalia o urbanista.

Com especialização em desenvolvimento de empreendimentos imobiliários e sua interação com a cidade, Paulo Renato Alves é um dos sócios do escritório Norden Arquitetura, já atuou como membro do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO) e recentemente integrou a equipe de consultores contratados pela Câmara Municipal para a interpretar e avaliar tecnicamente o projeto do Plano Diretor de Goiânia.

Para Paulo Renato, numa cidade que se organiza em múltiplas centralidades autônomas, onde o morador, a poucos passos de casa, consegue ter acesso a tudo o que ele precisa no dia a dia, o uso do carro acaba sendo, de fato, pouco necessário. Como um bom exemplo a ser seguido, ele cita o que tem sido feito em Paris, que tem adotado o conceito de “Cidade em 15 Minutos”, criado pelo renomado urbanista Carlos Moreno, professor da Universidade de Sorbonne na França.

“O objetivo desse modelo é combater essa expansão espacial e temporal desordenadas que os veículos automotores levaram às cidades, promovendo a proximidade dos empregos, de serviços essenciais, parques e praças públicas, comércio e uma variedade de opções de entretenimento, conectados e acessados por meio da mobilidade ativa, bicicleta ou a pé ou então até mesmo com esses novos veículos elétricos leves”, explica Paulo Renato.

Personagens

Um estilo de vida mais saudável, economia com combustível ou mera comodidade, seja qual for o motivo, fato é que muita gente já está repensando a sua mobilidade e deixando o carro de lado. O eletricista Mário Sérgio é uma dessas pessoas, há mais de um ano e meio, optou em adotar a bicicleta como alternativa para manter a prática de atividades esportivas e os cuidados com a saúde. “Uso a bicicleta todos os dias para ir trabalhar porque eu consigo aliar o deslocamento para o trabalho e praticar uma atividade física para deixar o meu corpo em forma”, destaca o eletricista, que pedala 16 quilômetros por dia, do Jardim Bela Vista até o canteiro de obras onde trabalha, no setor Marista, em Goiânia.

Já a arquiteta Karla Patrícia, que há mais de dois anos adotou o modelo de teletrabalho ou home-office, se desfez do seu carro. “Tive que fazer alterações bruscas na vida e na rotina. A primeira foi sair de um apto próprio de 57m², para um alugado de 97m², onde montei escritório com o conforto e a privacidade necessária para trabalhar. Também vendi meu carro e hoje só ando de aplicativo, visto que saio muito pouco de casa e meu filho estuda ao lado de casa. Mas, apesar das grandes mudanças, hoje já nos adaptamos totalmente e acho que a nossa rotina ficou bem mais simples, pois resolvemos muita coisa sem sair de casa”, relata.

Compartilhe

Artigos Relacionados