Mara Guerra/Foto: Alexandre Stone

Entendendo o luto

Por Mara Guerra – Psicóloga Clínica Escritora, Coach emocional

 

Resolvi escrever este artigo a partir da minha própria experiência, vivida quando recebi a notícia de que eu estava com câncer na mama direita. Naquele momento essa notícia foi devastadora e revelou-se uma perda emocional profunda, me fazendo entender a necessidade de abordar o assunto. Assim escolhi falar sobre a teoria do apego de John Bolbwy, psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico, notável por seu trabalho pioneiro na teoria do apego.

A possibilidade da morte ou a morte em si mesma ainda é um tabu a ser abordado. A morte é um grande mistério. Freud afirma em sua teoria que todos nós temos a pulsão de vida e a pulsão de morte, uma nos faz lutar pela permanência da vida e a outra nos ajuda a enfrentar a morte, destino inexorável de todos nós. Ao nascer trazemos os medos e os sentimentos de dor relativos à morte, inscritos no consciente e no inconsciente de cada um de nós. Estes sentimentos nos orientam a proteger-nos de tudo o que nos ameaça.

Sofremos com a possibilidade da morte e reagimos a essa notícia do mesmo modo que reagimos a uma perda. Vivemos o luto quando alguém muito próximo morre. Do mesmo modo passa a viver em luto aquele que recebe a notícia de uma doença grave e fatal que poderá levar à morte!

A notícia de uma doença inesperada que ameaça seriamente a vida chega feito bomba, destruindo os sonhos, as esperanças e a rota da caminhada que o indivíduo trilhava. Afetado pela notícia da possibilidade da sua própria morte ou da morte de um ente querido, resta ao indivíduo a profunda dor da perda. Quando a notícia de doença fatal chega por meio de um diagnóstico médico, traz consigo profundo peso de dor e variados sentimentos de desesperança. Assim aconteceu comigo com o diagnóstico de câncer de mama.

Quando recebem a notícia de um câncer, poucas mulheres conseguem ficar emocionalmente fortes, pouco afetadas pelo diagnostico. Encontram uma forma de superar a notícia, usam mecanismos de defesa e afirmam para si mesmas e para os outros que vão vencer, que vão sair dessa! É uma forma de superar a dor da notícia! Se apegam à fé, que passa a ter importância fundamental. É neste momento que a fé, as orações, a meditação e a leitura de textos sagrados promovem o refrigério da alma, não importando qual a religião professada. A ciência moderna reconhece na fé um importante elemento de superação nos casos de perdas ou doenças graves. Outras mulheres desenvolvem a depressão como resultado da perda ou da notícia de doença grave. A depressão é também uma forma de sobrevivência, um mecanismo de defesa na luta pela vida.

Bolbwy fala da teoria do apego com muita clareza sobre nossa infância e nossa história e como influencia nos momentos difíceis e de morte. A criança quando vivência a ausência da mãe tem sentimentos de raiva e de protesto indo buscar está mãe desesperadamente! Essa forma de se manifestar no indivíduo, estes sentimentos de raiva e protesto são vistos como a primeira fase do luto. Bowlby (1998) identificou como quatro fases. Como que a pessoa reage diante da perda de um parente ou a pessoa próxima, porém, enfatizou que estas fases não acontecem de forma definida em cada indivíduo.

Conforme declarou a primeira fase é de entorpecimento ou choque, em que se expressa o sentimento de raiva e explosões de aflição em decorrência do que aconteceu. A segunda fase é busca e a ansiedade de encontrar o que foi perdido, podendo durar alguns meses até muitos anos. Na terceira fase aparece a desorganização e desespero. A reorganização já vem como a quarta fase. Podendo vir com um grau maior ou menor de reorganização. Podemos dizer que essa relação na infância como suas perdas e a elaboração delas é que irão determinar a sua relação com as perdas na fase adulta! Kübler Ross (1996), enfatiza a importância do apoio e o afeto pelos doentes que são terminais e que irão passar pela morte. Como os tratamos, e os ouvimos e como nossa empatia se estabelece diante ao doente e a morte eminente.

Nesta jornada observada por mim, da notícia do diagnóstico de uma doença que poderia me levar a morte, me remeteu a infância e as perdas que não foram tão bem elaboradas e vividas com minhas figuras parentais e a relação de apego com a minha mãe, assim me senti insegura e abandonada! Logo entrei em depressão.

Como terapeuta observei a necessidade de buscar novamente a terapia e a minha fé com mais afinco e determinação. Observei que a notícia de possibilidade de morrer me foi tirado todos os planos futuros de realização pessoal e sonhos e vivendo assim, as fases do luto. Após passar durante um ano de tratamento e com a ajuda psicoterápica e psiquiátrica consegui superar as fases do luto. Eu já havia estudado sobre o luto, mas observei nossa fragilidade diante a morte de forma pratica, não apenas teórica. Isso nos remete à reflexão e à constatação da nossa própria fragilidade diante da própria morte e a da morte do outro.

Precisamos falar mais sobre este assunto que envolve de forma biopsicossocial. Que os autores que falam sobre este assunto sejam mais estudados e relatados nas academias do comportamento e que a empatia seja desenvolvida entre os médicos, quando irão dar a notícia de doença ou de morte para um ente querido da pessoa adoecida ou da família de quem morreu. Que possam observar a necessidade de enxergar o doente como um ser humano com sentimentos e dores que essas notícias se tornam traumáticas com estas perdas e lutos.

 

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