*Por André Ghignatti
Para extrairmos o que há de melhor e mais vantajoso em nosso país, o olhar do empreendedorismo deve ser amplo e não pode se limitar apenas às grandes capitais. Atualmente, estamos presenciando um movimento de crescimento do empreendedorismo em regiões mais afastadas das grandes metrópoles, bem como na região Norte e Nordeste do país. Essas áreas oferecem oportunidades únicas para startups e negócios inovadores, apresentando diversos segmentos com potencial de sucesso.
Ao avaliarmos, por exemplo, a região Norte, percebemos que ela é um dos maiores polos de inovação do Brasil, sendo responsável pelo desenvolvimento e fornecimento de soluções tecnológicas para empresas nacionais e internacionais. Os dados mais recentes da PINTEC (Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica) em 2014 (a última realizada pelo IBGE que abordou o desenvolvimento tecnológico de cada região do Brasil), mostram que a região gerou mais de R$119 milhões em produtos e processos que continham algum nível de inovação, fora isso, quase 1500 empresas investiram na produção de novos produtos ou atividades internas de P,D&I. Se compararmos com as grandes regiões brasileiras no período, vemos que a região Norte foi a que mais implementou algum tipo de inovação dentro das instituições (43,4%).
No Nordeste do Brasil, além do grande destaque pelas instituições de ensino de renome e o investimento em edtechs, a região vem de um grande crescimento no ecossistema de startups nos últimos anos. De acordo com um mapeamento realizado pela Associação Brasileira de Startups, hoje existem mais de 1171 startups no Nordeste, concentradas principalmente em Pernambuco, Bahia e Ceará. De 2016 a 2020, o número de startups pelas cidades teve um grande crescimento, de 5 mil para 13 mil espalhadas pela região.
O estado de Pernambuco é líder em inovação da região Nordeste com base no Índice FIEC de Inovação nos Estados, e uma das razões para isso foi a criação do Polo Digital, um dos maiores parques tecnológicos com um dos melhores ambientes de inovação do Brasil, que trabalha com serviços e softwares do setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) na região desde o ano 2000. Esse grande modelo de desenvolvimento inovativo, além de estimular o uso de novos recursos e posicionar o Estado como um grande polo de inovação, também alavanca o empreendedorismo da região. Para contextualizar, em 2022 o Polo Digital divulgou um balanço de seus resultados, apresentando um aumento de 28,6% no faturamento, alcançando R$ 3,67 bilhões em 2021. O número de funcionários também cresceu 10%.
Investir em startups de regiões interioranas também pode apresentar vantagens. Essas localizações geralmente possuem um custo de vida mais acessível, o que significa que o capital investido pode render mais, podendo proporcionar um maior retorno. Além disso, o mercado muitas vezes é menos saturado, o que significa menos concorrência direta e a possibilidade de encontrar nichos de mercado não explorados, além de poderem se beneficiar com recursos locais específicos, como acesso a matérias-primas, mão de obra qualificada e redes de contatos regionais.
Por fim, resumimos que o investimento em startups e tecnologias provenientes de cidades interioranas, podem ser uma grande alavanca para o desenvolvimento tecnológico, social e, é claro, para o ecossistema de tecnologia do país. Apesar dos holofotes na grande maioria das vezes estarem virados para as metrópoles e regiões como Sudeste e Sul, o potencial inovativo fora das grandes capitais é expressivo e oferece oportunidades para novos empreendimentos que, sem dúvida, possuem a possibilidade de muito sucesso.
*André Ghignatti é Cofundador e CEO da WOW, uma das principais aceleradoras de startups do Brasil, que contribui com capital financeiro e intelectual ao longo de toda jornada das startups.