Majur

Majur capa da Glamour Brasil

Em celebração ao mês do orgulho LGBTQIAP+, artista trans é o destaque da edição

 

A Glamour Brasil de junho traz como capa uma das grandes revelações da música brasileira nos últimos anos, a cantora Majur. Mulher trans, preta, natural do bairro de Uruguai, na Cidade Baixa de Salvador, Majur acaba de lançar seu segundo álbum “Arrisca”, que 12 horas após o seu lançamento já batia mais de 1 milhão de streamssó no Spotify. Neste novo trabalho, a artista promete compartilhar ainda mais sobre quem é para seus fãs, indo ainda mais além das questões sociais que enfrenta diariamente.
 

Em entrevista para a revista, compartilha sobre religião, desafios da carreira, momento atual, relacionamento, inspirações e muito mais.

Abaixo trechos da entrevista, que estarão disponíveis na íntegra no site da revista: Link e pelo app GloboMais.

 

Glamour: Você é declaradamente uma pessoa de axé, e quem te acompanha sabe. Sua fé aparece, inclusive, nas suas músicas. Qual a importância do candomblé na sua inspiração e na sua vida?

Majur: Desde criança, escutava meu pai tocar agogô. Pegava escondido para tocar porque diziam que “era de macumba”, e o que eu sabia tocar era o “ijexá” (ritmo de Iemanjá). Sempre levei esse som comigo. Dia 2 de fevereiro de 2018 (dia em que Iemanjá é celebrada), fui para o mar depois de ter saído da igreja evangélica, onde passei muito tempo tentando ser algo que eu não era, decidi jogar uma rosa para Iemanjá e dizer a ela como me sentia. Naquele momento, eu já não tinha mais referência de qual Deus estava comigo, eu só sabia que estava. Nessa época, foi quando comecei a querer conhecer minhas raízes africanas. Na mesma data em 2019, estava na sala de Caetano Veloso, cantando e sendo reconhecida por pessoas famosas. Depois de 24 horas, estava com 20 mil seguidores e fui convidada para contar no Baile da Vogue. O candomblé provou para mim que tudo é Deus. A diferença é como a gente sente, seja no candomblé, no espiritismo, no evangelho, no budismo, na umbanda… Qualquer religião é religião a partir do momento em que você se conecta com ela.

 

Glamour: Como é a sua relação com a sua fé?

Majur: Sempre soube que tenho alguém. Até os 14 anos, eu era da igreja evangélica, mas percebi que existia algo ali, naquela época, que queria me impedir de ser eu mesma. Só que a voz que eu sempre tive comigo nunca me disse isso. Passei sete anos sendo ministra de louvor e, quando comecei a transparecer minha feminilidade, as coisas mudaram. Fui tirada de tudo, aquilo me doeu muito. Comecei a questionar tudo, até se Deus existia. Ninguém sabe disso, mas jejuei por sete anos porque queria ser normal – diziam que eu precisava jejuar para que Deus me modificasse, mas o Deus deles não era o mesmo que o meu. Quando percebi que eu passei muito tempo tentando ser algo que eu não era, eu saí. E meu pai de santo, Marlom Bastos, foi uma pessoa muito importante nesse meu processo. Ele esteve comigo quando eu não conseguia dizer para ninguém como eu me sentia ou quem eu era. O candomblé é muito machista também, infelizmente. Marlom disse “se você é mulher, o seu santo vai dizer por você”, e todos os meus orixás responderam. Eu vesti uma saia, mas poderia vestir calça e continuar sendo a mesma pessoa para eles. Não existe força maior do que você poder ser quem você é sem julgamento.

 

Glamour: Um dia antes de Arrisca sair, você disse que ele é um dos maiores álbuns da sua carreira. Por que vê essa importância?

Majur: Arrisca é o pós de uma descoberta de tudo o que eu sou e a partida para a ação. Arrisca é uma verdade. Quando comecei, eu restringia minha imagem, e isso foi necessário para que as pessoas me enxergassem como artista, mesmo que eu não goste disso. Com Arrisca, vou além da poesia. Falo quem é, completamente, Majur. Falo sobre estar feliz, sobre o que eu penso, sobre o que eu gosto ou não. Não é mais sobre ser trans e sobre ser preta. É sobre ser eu mesma. Quem ouvir vai conhecer a Majur.

 

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