Por Dra. Ana Paula Amanajás

Querida leitora, você já acordou se sentindo a CEO do universo e, no dia seguinte, mal

conseguiu sair da cama para escovar os dentes? Se sim, talvez tenha experimentado

um gostinho do que é viver com Transtorno Bipolar – essa “montanha-russa emocional”

para a qual ninguém pediu ingresso.

Hoje, 30 de março, foi escolhido como o Dia Internacional do Transtorno Bipolar. E não,

não foi escolhido aleatoriamente por alguém que estava em fase maníaca (perdoem-me

o humor ácido). Esta data marca o aniversário de Vincent Van Gogh, um dos maiores

gênios da pintura mundial, que hoje muitos especialistas acreditam ter vivido com esse

transtorno. Irônico pensar que o mesmo homem que nos deu “A Noite Estrelada” também

cortou a própria orelha em um episódio de crise. Em Van Gogh, a genialidade e o

sofrimento frequentemente compartilham o mesmo cérebro.

Estudos epidemiaológicos estimam que a prevalência do Transtorno Bipolar seja de

0,9% a 1,5% da população brasileira – o que representa de 2 – 3 milhões de pessoas,

com maior incidência, é claro, em mulheres! E enquanto você, multitarefas como é (assim

como eu), gerencia casa, filhos, marido, carreira e ainda tenta encaixar aquele treino na

academia pelo menos 3 vezes na semana, imagine fazer tudo isso enquanto suas

emoções oscilam dramaticamente entre extremos. Parece ser uma realidade

aterrorizante, não é mesmo?

Na fase maníaca, a pessoa experimenta um estado de euforia intensa, uma energia

quase sobre-humana, diminuição da necessidade de sono, autoconfiança exagerada,

pensamentos acelerados e, muitas vezes, comportamentos impulsivos – como comprar

um carro que não cabe no orçamento, estourar o cartão de crédito com coisas

desnecessárias ou aceitar projetos e prazos impossíveis de serem executados.

Já na fase depressiva, o mundo perde a cor, as tarefas mais simples parecem muralhas

intransponíveis, e o desânimo toma conta.

Entre essas duas fases, existe a hipomania (um estado semelhante à mania, porém

menos intenso, onde a pessoa sente-se mais produtiva, criativa e sociável, mas aindamantém certo controle sobre seus comportamentos) e períodos de estabilidade. Algumas

pessoas experimentam ciclos rápidos, outras podem passar meses em uma mesma fase.

A boa notícia é que o tratamento existe e é eficaz. Combinando acompanhamento

médico especializado, medicação adequada, psicoterapia (especialmente a Terapia

Cognitivo-Comportamental) e hábitos regulares de vida, é possível estabilizar as

oscilações de humor e viver bem. E quando digo “hábitos regulares”, estou falando de

sono adequado, exercícios físicos, alimentação balanceada e técnicas de gerenciamento

do estresse.

Para nós mulheres, que muitas vezes nos cobramos perfeição em todas as esferas da

vida, reconhecer que precisamos de ajuda não é sinal de fraqueza, mas de

autoconhecimento. Afinal, você não hesitaria em procurar um médico para uma perna

quebrada, por que hesitaria procurar para uma mente em sofrimento?

Se você se identificou com alguns desses sinais ou conhece alguém que possa estar

passando por isso, busque ajuda profissional. Como médica especialista em saúde

mental feminina e neurociência, tenho visto histórias inspiradoras de mulheres que, com

o tratamento adequado, não apenas controlaram o transtorno bipolar, mas

transformaram sua sensibilidade emocional em força criativa e empatia.

E lembre-se: Van Gogh nos deixou obras eternas apesar (ou talvez por causa) de suas

´´tempestades internas´´

. Já imaginou o que você pode realizar quando aprende a

navegar nas suas?

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Com carinho e cuidado, Dra. Ana Paula Amanajá