Referências do movimento body positive falam sobre autoestima e padrões de beleza

 

Em novembro, a Vogue Brasil convida Preta Gil, Duda Beat e Rita Carreira para estrelarem as três capas da edição, que faz ode ao corpo livre e à autoaceitação. As artistas, que são referências do movimento body positive, foram clicadas pelo fotógrafo Fernando Tomaz e falaram com exclusividade à revista sobre pressões estéticas, autoestima e quebra de padrões estéticos.

 

 

Antes de sororidade e empoderamento serem temas tão difundidos e praticados, Preta Gil já lutava pelo direito de ter o corpo que queria. Em 2003, a cantora causou polêmica ao aparecer nua na capa do disco Prêt-à-Porter e, em seguida, na capa da revista Trip. Na época, Preta não escondeu o desentendimento que teve com o pai, assim como hoje não deixa de expor sua vulnerabilidade nas redes sociais. “Se tem alguma coisa da qual me arrependo é não ter me liberado mais cedo da escravidão dos padrões, de ter vivido muitos anos numa prisão psicológica, de ter mutilado meu corpo com cirurgias, de ter o escondido por vergonha”, declara. Mesmo com a repercussão negativa das fotos, Preta acha que valeu a pena: “Rompi muitas barreiras, quebrei paradigmas, abri espaços. Não foi fácil, mas olho para trás e tenho certeza de que valeu. Talvez, se não tivesse posado nua em 2003, Duda Beat e Rita Carreira não poderiam ser tão livres. Talvez essas capas de Vogue sequer existissem.”

 

 

Em uma indústria em que o visual é quase tão julgado quanto os dotes musicais, Duda Beat mostra que é uma mulher bem-resolvida e que ama o que vê no espelho. “Lido com meu corpo de forma muito positiva. Claro que há momentos em que olho e não gosto de uma coisa aqui outra ali. Acho que isso faz parte de ser mulher em um país que é tão machista e que faz uma pressão estética muito grande sobre o corpo das mulheres, e isso é passado de pai para filho”, opina. No entanto, a pernambucana de 33 anos conta que nem sempre foi assim. Nos anos 90, ela diz ter perdido as contas do quanto sofreu bullying por não se encaixar nos ditos padrões de beleza e anos depois, ainda se sentindo pressionada, acabou colocando silicone nos seios. “Hoje me pergunto até que ponto vale a pena ceder às pressões por uma norma que, no fundo, nem é um desejo genuíno nosso? Cada um tem a liberdade de fazer o que quiser, mas acho importante questionar se está fazendo por você ou para agradar ao outro”, alerta.

 

 

A modelo Rita Carreira é hoje uma das brasileiras que melhor fala sobre body positive nas redes sociais. Desde sua estreia no SPFW, em 2017, a paulistana de 27 anos é determinada a ser referência e abrir caminho para outras mulheres. “Ser gorda nunca vai ser mais difícil do que ser negra, mas faço questão de levar adiante discussões sobre gordofobia”, afirma. Se a construção da sua autoestima foi um processo que começou cedo, ainda infância, após fazer transição capilar e assumir o cabelo natural, em março deste ano, a paulistana se considera muito mais original. Além do cabelo, Rita vê que o movimento virtual com apelo offline, o Vidas Negras Importam, também alavancou suas competências e sucesso, mas é só o começo. “Foi um divisor de águas. Várias marcas que me negaram trabalho lá atrás, inclusive dizendo que ter mulher negra na campanha empobrece o resultado, passaram a me procurar. A visibilidade foi importante, me deu possibilidade de fazer coisas novas, mas precisamos continuar ocupando os espaços”, conclui.

 

A Vogue Brasil de novembro chega às bancas e mercados a partir do dia 6 de novembro.