A tecnologia está cada vez mais presente na vida das pessoas e traz novas soluções para problemas do cotidiano. Nessa direção, as mais diferentes áreas buscam desenvolver novos recursos, como a medicina e o setor de cuidados. Exemplo disso são os pets robôs, invenção que já é uma realidade também aqui no Brasil em determinados tratamentos pró-saúde mental, como demência e autismo. Os bichinhos são até mesmo batizados pelos pacientes e respondem pelo nome.

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Os animais sempre foram importantes aliados dos homens, isso desde a época em que eram necessários para a caça. Hoje, exercem papel fundamental na vida de muita gente como companhia. No entanto, ter um animal traz também uma série de responsabilidades, como  atenção, carinho, passeios, cuidados com a saúde e uma alimentação saudável. Nem todo mundo está apto a assumir esses cuidados, e é por isso que cães e gatos robóticos podem ser bons aliados na hora de estimularem a memória e a sensação de pertencimento àqueles que querem ter o bichinho, mas possuem limitações ao cuidar.

Pets robóticos possibilitam que a Terapia Assistida por Animais, por exemplo, seja uma realidade para mais pacientes. Segundo a Dra. Marcella Bianca Neves, mestre em gerontologia, “a interação com eles diminui a agitação, a ansiedade, além de trabalhar questões sociais e emocionais, como troca de afeto, sem precisar de todos os cuidados e atenções que um animal precisa ter, o que pode ser inviável em alguns casos”.

Por fora bicho, por dentro robô

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Os robozinhos peludos funcionam à base de diferentes sensores espalhados pelo corpo, de acordo com sua espécie, e assim trabalham suas interações via comandos pré-estabelecidos, em seus softwares. Quando é feito carinho no peito do gato, o animal simula lamber a patinha, e com outros estímulos, mexe as orelhas e a cabeça, por exemplo. Já o cachorro abana o rabo, demonstrando felicidade, e pode chacoalhar a cabeça para os dois lados. Ao pararem de receber estímulos, esses robôs chamam, por sua vez, os pacientes para continuarem a sessão, seja através de um latido ou de um miado, fazendo a interação acontecer dos dois lados.

Terapia com robôs na prática

Há dois meses, desde o final de agosto, o Instituto do Cérebro Marcella Bianca, em São Paulo, dispõe desses “animais” para o tratamento de pacientes com demência e autismo. Do Instituto, a Dra. Marcella afirma que “como os pets funcionam por sensores, tanto táteis, quanto auditivos, eles desafiam os pacientes a gerarem novos estímulos e reações, com um latido, por exemplo — o que desperta a atenção de crianças e idosos”. 

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Com os crescente interesse pela terapia, os pets robôs se tornaram presença obrigatória na vida dos pacientes. Esses animais ganharem, inclusive, nomes próprios, como o gato preto Mimi e o cinza Peter, além do cachorro Max. “Os nomes foram criados em conjunto com os pacientes. E, durante as sessões, sempre trabalho essa questão do nome, que ajuda na memória. Quando pergunto como o pet se chama, trago para o processo cognitivo o elemento da emoção, o que faz a memória ser melhor evocada”.  

Da invenção ao consultório

A equipe brasileira teve seu primeiro contato com os pets robôs, em julho, durante o Congresso Internacional da Associação de Alzheimer, em Los Angeles. Na ocasião, foram debatidos novos tratamentos para pacientes com demências, como o trabalho com cães guias para sessões de Terapia Assistida e a invenção robótica em questão.

Com a primeira versão. criada em 2015, pela empresa americana Hasbro, os animais robôs da série Joy for All Companion Pets foram co-desenvolvidos a partir de demandas e solicitações de familiares e cuidadores que buscavam oferecer conforto e relações mais afetuosas com entes que estivessem envelhecendo. 

Desde então, esses “animais de estimação” ganharam prêmios como o Caregiver Friendly Award do Today’s Caregiver e o Dementia SMART Award da Dementia Society of America. Em 2017, a equipe desenvolvedora do projeto Joy for All fundou a Ageless Innovation, aumentando o enfoque do produto para o estímulo de idosos.

Próximos desafios

Mesmo com o sucesso no auxílio do tratamento de demência e autismo, os pets robôs ainda dependem de movimentos pré-estabelecidos, e isso significa que não aprendem com a inteligência artificial (IA). Mas o cenário deve mudar, em breve, com as novas tecnologias que vêm sendo desenvolvidas dia após dia na área médica, com foco na saúde mental.

“Na gerontologia, a demência será considerada daqui 5 anos uma das doenças mais recorrentes. Além do impacto genético, as emoções, a ansiedade e a depressão vão ser causas das demências”, afirma Dra. Marcella. Diante disso, a tecnologia deve trabalhar em novas frentes para o estímulo do cérebro, tanto diretamente, via eletroestimulação, quanto indiretamente, com treinos cognitivos.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), na medida em que a população mundial envelhece, a expectativa é de que o número de pessoas que vivem com demência triplique até 2050, passando de 50 milhões para 152 milhões. Sendo a doença de Alzheimer o tipo mais comum de demência, que representa entre 60 e 70% dos casos. 

Vale lembrar que demência é um processo neurodegenerativo, uma perda que o cérebro vai tendo e causa comprometimentos cognitivos, como perda de atenção e de memória. Com o envelhecimento, é normal notar perda cognitiva, mas quando isso vira algo patológico, apresenta-se o quadro de demência. Sem cura, o que se espera com as atividades cognitivas é postergar a piora e aumentar a qualidade de vida dos pacientes. E para isso os bichinhos já mostraram que têm potencial.

Fonte: https://canaltech.com.br