O impacto do Metaverso na sustentabilidade

por Renato Abreu Ortiz de Andrade.

Na última década, fomos surpreendidos por uma avalanche de inovações tecnológicas que buscam por funções práticas em nossas vidas, sempre com foco em agilizar a rotina, facilitar processos e proporcionar mais conforto. Uma dessas novidades é o Metaverso. Tido como uma das maiores promessas na área da tecnologia e o sucessor da Internet como conhecemos, uma das grandes questões a se discutir são os impactos futuros que este novo “mundo” nos dará. Afinal, será que a sustentabilidade e o Metaverso são duas coisas que podem caminhar juntas?

Antes de mais nada, precisamos entender o que é o Metaverso. Originário de um conceito criado no livro de ficção científica dos anos 90 chamado Snow Crash, do escritor Neal Stephenson, o Metaverso pode ser definido como uma realidade paralela digital onde por meio de tecnologias diversas como Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Computação Gráfica 3D, Avatares, Blockchain, conectividade 5G entre outras; as pessoas podem viver, trabalhar, se comunicar e se divertir. É como o mundo real, mas com muito mais possibilidades. É a convergência de tudo o que a humanidade já construiu em termos de tecnologia até aqui.

Podemos citar o metaverso como um caminho que está sendo trilhado com foco no futuro. Um artigo do VentureBeat, site de tecnologia americano, mostrou que nos próximos 15 anos o setor pode movimentar de R$10 trilhões a R$30 trilhões, números que representam a inclinação social para o consumo da tecnologia. Por ser uma verdadeira propensão da sociedade, a preocupação com os impactos ambientais que o metaverso pode oferecer já é pautada. Segundo matéria publicada pela World Institute of Sustainable Development Planner (WISDP), instituto de aprendizagem e pesquisa que coopera com a política de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, hoje os serviços que envolvem T.I e dados na nuvem emitem cerca de 2% da quantidade global de carbono, semelhante à quantidade do setor da aviação (2,5%).

Apesar da probabilidade de um possível impacto negativo no meio ambiente, as soluções sustentáveis para este problema já estão sendo estudadas e, inclusive, já têm prática. Iniciativas como a Destination Earth, criada em 2021 pela Agência Espacial Europeia (ESA) e a Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos (EUMETSAT), visa desenvolver um digital twin (gêmeo digital) da Terra, ou seja, um modelo virtual tridimensional altamente detalhado do planeta, que busca mapear o desenvolvimento do clima, eventos naturais e projetar impactos ambientais no futuro com precisão, além do planejamento da gestão de água doce do planeta, alimentos e parques eólicos. Com esse projeto, poderemos, de certa forma, ter uma real projeção do nosso futuro e impedir os impactos que as ações humanas podem ter no planeta nas áreas de consumo, energia, logística e sustentabilidade, podendo se tornar uma ferramenta extremamente útil, ajudando até na tomada de decisões políticas.

De acordo com o Ernst & Young Global Limited (EY), as cidades são responsáveis por 70% da emissão de CO², sendo 28% apenas da construção, aquecimento, refrigeração e iluminação. É neste ponto que os gêmeos digitais farão a diferença, pois futuramente essas áreas terão suas réplicas dentro do mundo virtual, possibilitando um mapeamento preciso dos problemas que pedem por soluções ou melhorias, incluindo as questões sustentáveis, como o consumo de energia, economia de recursos naturais e preservação. 
A Ernst & Young Global também crava que os gêmeos digitais podem reduzir a emissão de CO² de um edifício em 50%, melhoras na eficiência operacional em 35% e aproveitamento de espaço de 15%. Isso nos mostra que apesar da real emissão de CO² que serviços tecnológicos causam, sua utilização é mais do que necessária para buscarmos soluções para problemas futuros.

Apesar das simulações com gêmeos digitais serem um aspecto importante do Metaverso, vale a pena ressaltar que esta é só uma das inúmeras aplicações desta tecnologia que pode nos auxiliar na redução dos impactos ambientais no presente e no futuro. Outras opções como as reuniões remotas e o turismo digital por meio dos óculos de Realidade Virtual podem ajudar no controle do consumo de energia e da emissão de CO², já que reduzem o tráfego aéreo e de veículos nas cidades e países.
Por fim, sempre vale a pena repensar as formas que utilizamos essas tecnologias para aprimorar nosso mundo e com o Metaverso estamos apenas começando a ver as possibilidades de contribuirmos para um futuro melhor e mais sustentável.

Renato Abreu Ortiz de Andrade é Product Designer, possui MBA em Marketing e Inovação, trabalha em projetos com tecnologia imersiva (AR, VR,) e fez parte da equipe vencedora do Startup Weekend Vitória de Negócios Sustentáveis. Atualmente, Renato é colaborador do Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia.

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