Neste primeiro contato do ano, preparamos uma série sobre os principais distúrbios do sono com o Dr. Renato Martins, Doutor em Medicina do Sono Infantil pela UNESP, especialista em Medicina do Sono pela USP, Otorrinolaringologista pela UNESP, chefe do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) da UFAM, coordenador e preceptor do Programa de Residência Médica em Otorrinolaringologia do HUGV e fundador da primeira clínica multiprofissional especializada em Medicina do Sono de Manaus, o Instituto Morpheus.

Hoje vamos começar falando sobre uma dos principais distúrbios do sono: a Insônia.
Ela é bem famosa, consiste na dificuldade de pegar no sono ou manter uma noite de sono. Esse distúrbio de sono prejudica a saúde e o bem-estar do indivíduo, suas causas podem estar ligadas ao estresse, ansiedade, depressão e diversas condições médicas. Vale a pena conhecer um pouco mais sobre este problema tão comum e pouco valorizado.

Insônia: mal do século XXI

O especialista Renato Martins, observa que qualquer pessoa que tenha um problema recorrente acaba por procurar um médico. Por exemplo, uma dor de cabeça esporádica, queixas de nariz entupido e outras. Mas há uma grande exceção: a InSôNiA. A cada noite, milhões e milhões de brasileiros rolam de um lado para outro na cama, sem conseguir dormir. O Instituto de Pesquisa e Orientação da Mente realizou uma pesquisa em 2012 e mostrou que 69% do entrevistados avaliavam o próprio sono como ruim e insatisfatório. Apesar disso, raras foram os entrevistados que comparecem a um consultório para tratar do problema.

A atitude é reveladora. Mostra o desprestígio com o sono em uma era de superexcitação, tarefas múltiplas e tentadoras telas iluminadas, que colaboram para uma cultura que não só despreza as horas desperdiçadas com repouso, mas favorece que elas sejam miseráveis. Trata-se de uma civilização da insônia.

— A insônia sempre existiu, mas nos dias de hoje a prevalência tem aumentado muito. As pessoas não valorizam o seu sono. O indivíduo dorme se sobrar tempo. Acorda cedo para fazer atividade física, porque não tem outro horário, e depois dorme tarde porque tem de ver o jornal das 22h, tem de checar os e-mails, tem de isso e tem de aquilo. Ele faz tudo o que tem de fazer. Mas nunca pensa que tem de dormir uma quantidade suficiente de horas (6, 7 ou 8 horas) para repor as necessidades fisiológicas básicas do corpo para o dia seguinte. Ninguém dá bola para o sono.” — afirma Renato.

Exaustos e mal-humorados

Essa cultura é prejudicial porque incorpora uma multiplicidade de hábitos que contribuem para dificultar o início do sono. O culto à boa forma, por exemplo, disseminou academias de ginástica que funcionam até altas horas da noite — enquanto os especialistas recomendam que não se faça exercício no fim do dia.

Da mesma forma, em tempos de streaming e redes sociais, virou um hábito noturno arraigado permanecer até tarde diante de tablets e computadores, aparelhos que emitem uma luz azul responsável por inibir a melatonina, o hormônio que põe o corpo para adormecer. Some-se a esse quadro um cenário de crise econômica, com hordas preocupadas com desemprego e dificuldades financeiras, e pronto: estão dadas as condições para a disseminação de uma epidemia de insônia.

As consequências de dormir pouco ou mal são o aspecto mais preocupante do fenômeno. Provavelmente, o indivíduo se sente exausto e mal-humorado no dia seguinte. Terá um rendimento pior na escola ou no trabalho. O cansaço, a sonolência e a queda de rendimento são efeitos relatados por 82% dos entrevistados no estudo citado acima. Diferentes pesquisas indicam que o sono e o cansaço estariam por trás de 30% a 60% dos acidentes de trânsito. A insônia ainda é associada a desregulações do organismo e a quedas de imunidade que, no transcorrer do tempo, aumentam a predisposição a uma série de doenças, além de colaborar para o ganho de peso.

Apesar de todos esses alertas, nem sempre dormir menos do que as sete ou oito horas recomendadas será um problema. O especialista em medicina do sono Renato Martins afirma que há pessoas que dormem pouco e não sofrem com isso. Segundo ele, estudos mostram que essas pessoas são, inclusive, sujeitas a menos problemas de saúde, na comparação com quem dorme além das horas recomendáveis.

— Na insônia, o principal fator de diagnóstico é a pessoa dizer: “No dia seguinte não consigo funcionar, chego ao trabalho e fico tomando café, fico bocejando, durmo na frente do computador, não consigo digitar nada”. Também há os que se tornam fumantes, porque o cigarro acorda. Porém, se no dia seguinte, a pessoa acorda 100%, sem nenhuma queixa, ela está normal. Pode até ser uma vantagem — tranquiliza.

Na próxima matéria, vamos dar mais informações sobre a insônia: os tipos mais comuns, as causas, as consequências, os prejuízos e dicas de como lidar com este problema. Se você se identifica com este texto, vale procurar um especialista em Medicina do Sono para investigar e iniciar um tratamento.

 

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