Criar, ter ideias que ninguém nunca teve, por em prática de uma forma inteligente e conseguir assim expressivos resultados. Muito mais do que a tão conhecida propaganda de 30 segundos na TV, um marketing bem feito é uma verdadeira arte. O entrevistado de hoje tem em seu DNA o dom da criatividade, desde sua infância busca atalhos mais eficientes para solucionar os problemas do dia a dia, e tenta enxergar muito mais do que os olhos lhe mostram, sendo não necessariamente o melhor, mas o primeiro. Formado em Publicidade e Propaganda pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP-SP), possuindo especialização em Creative Strategies in Marketing, pela Roger Hatchuel Academy (França), e pós-graduação em Gestão de Marketing pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER-SP), Gustavo Alckmin é referência em transformar ideias em um sucesso garantido. Com um vasto currículo neste segmento, ele hoje ocupa o cargo de Gerente de Marketing da Dukke Entretenimento (São Paulo-SP), trazendo um novo conceito ao mais novo Club da cena paulistana. Ele compartilhou conhecimentos muito interessantes sobre o marketing nos dias de hoje, visando sempre chegar ao topo nos negócios. Confira:
Gustavo, de onde surgiu essa paixão pelo marketing e qual foi o momento em que você teve a certeza de que este era o caminho certo a seguir?
Durante toda a minha vida fui um grande admirador da criatividade. Acredito que ela consiga traçar caminhos e atalhos que não vemos com os olhos e nem com o cérebro. Muito menos dentro de uma planilha de Excel ou Business Plan.
Ao mesmo tempo, quando eu era pequeno levava jeito pra essas coisas, adorava desenhar nos cadernos de escola, cheguei a fazer curso de tela, de design gráfico na Academia Brasileira de Arte, etc. Infelizmente, ou felizmente, sempre fui cercado por empresários dentro da minha própria família, principalmente por meu grande herói, meu pai. Todos sabem a grande influência que esses “mestres da vida” exercem em nós e como moldam nossos ideais. Além disso, eu achava muito chato aquela história de terno, gravata e quatro paredes.
À priori são dois mundos completamente diferentes, mas foi através do marketing que descobri que com a criatividade poderia haver geração de negócios. Quando percebi isso, foi quase como uma solução de vida, um caminho perfeito, um ideal maior. E assim fui, permeado por dois grandes ideais que tinha na vida, mas que pareciam nunca entrar em harmonia.
Vemos muitas empresas multinacionais e extremamente bem sucedidas no Brasil e no mundo investindo pesadamente em marketing mesmo no ápice do sucesso. A seu ver qual é o motivo e a importância deste tipo de investimento?
90% das pessoas detém uma visão errônea sobre a palavra “Marketing”, para muitos, marketing é o comercial de 30s da Rede Globo, ou o anúncio na revista de bairro e por ai vai. A essência do marketing provém de estudo, pesquisa, e técnica em prol de estratégias variadas visando soluções de mercado. A propaganda é a última fase do processo do marketing, que como o grande estudioso Kotller chamava de teoria dos 4 P’s, o último P era o de propaganda. Antes do plano tático, vem o plano estratégico, vem a pesquisa, os dados e é ai que a maioria dos “marketeiros” modernos se perdem.
Normalmente, empresas multinacionais detêm grandes profissionais em seus núcleos e qualquer grande e verdadeiro profissional da área de marketing sabe a importância de todas essas etapas, e isso no final das contas não sai barato. Além desse aspecto, temos aquela história de que quem quer ser grande tem que apostar alto, por isso a maioria das multinacionais acaba investindo quantias imensas nesse departamento, mesmo quando estão no ápice do sucesso. O maior erro de qualquer marca líder de mercado, é achar que não se é mais necessário investir em marketing por já ser líder, muitos se esquecem do quanto já se foi investido ao longo de anos para que aquela marca chegasse lá. Além disso, qualquer líder de mercado tem uma obrigação ainda maior do que a própria empresa, pois é ele quem direciona o futuro mercado como um todo. Pois se esse líder não continuar investindo, provavelmente quem está debaixo dele continuará, e ai o jogo muda e voltamos naquela velha máxima: “É melhor prevenir do que remediar”.
O que você acha da publicidade brasileira no meio digital? Ainda estamos bem atrasados em relação às potências mundiais?
Acredito que a Publicidade como um todo no Brasil já teve épocas melhores, porém nunca tão “justa” como a que estamos vivenciando. Hoje, qualquer consumidor detém o poder sobre qualquer marca, nenhuma mensagem é mais unidirecional como antes, se uma marca me fez mal, eu tenho a capacidade total de interagir com ela (seja pelo Facebook ou qualquer rede social) e receber um feedback da mesma, acho isso incrível. As marcas devem dialogar nas redes como pessoas e não mais como marcas, quem entender isso com certeza terá um excelente resultado, principalmente nas redes sociais. Acredito que muitas marcas aqui no Brasil já conseguiram enxergar isso e desenvolvem um conteúdo muito mais voltado ao Lifestyle dos consumidores do que propriamente ao seu produto. Resumindo, acho que a publicidade no meio digital parece ser muito mais sincera do que em qualquer outro veículo.
Com relação ao “atraso” a outras potências, eu particularmente não concordo. Não deve ser surpresa para ninguém que o Brasil tem se tornado um dos países com maiores índices de uso de internet no mundo. E no caso das redes sociais, isso é ainda mais verdadeiro: só em 2013, nos tornamos o segundo país com maior uso do Facebook no mundo. E o mesmo vale para o Twitter, desde 2012, e o Youtube, desde 2014.
Como você vê o crescimento dos blogs a cada dia? De que forma isso tem contribuído para o marketing profissional e pessoal?
Os blogs passaram a exercer um papel muito importante na publicidade brasileira desde 2010. O poder sobre o processo de comunicação não está mais somente nas mãos das marcas, portanto os consumidores passaram a ter poder de influência sobre outros consumidores, por isso algumas marcas passaram a investir também nessas “blogueiras” e “blogueiros”, é quase como se estivessem “comprando” novamente um pouquinho daquele poder de influência que elas perderam um dia.
Acredito que toda tendência de marketing contribua muito para a área como um todo, por uma simples razão, porque é o futuro. Marketing é uma área muito embasada em tendências e acredito que os Blogs têm contribuído muito não somente para o marketing pessoal, mas também para outras marcas e para o mercado como um todo, vejo isso como algo super positivo. Claramente a partir do momento que um blog ou uma pessoa passa a ter um poder de influência sobre outras, facilita muito a construção de qualquer processo de marketing pessoal ou profissional, mas com esse poder também vem grandes responsabilidades e é nesse momento que alguns se perdem um pouco.
Você assessorou a rede social LINE, o que você aprendeu neste assessoramento? Que estratégias utilizou para tentar driblar um concorrente forte e consolidado como o Whatsapp?
Quando fui convidado para participar do projeto de lançamento do aplicativo pela JWT, estava ainda terminando a faculdade, com uma cabeça muito mais idealista do que a que tenho hoje. Mas se fosse resumir essa experiência, aprendi que nem todo bom produto é eficaz para qualquer lugar ou qualquer cultura. Aprendi que existem um milhão de variáveis sobre o processo de marketing como um todo, que influenciam diretamente no resultado de venda do seu produto por melhor que ele seja, e se não analisarmos e investirmos em ferramentas para minimizar esse risco, a chance de dar errado é grande. Por mais que você invista (e olha que investimos muito na época, mais de 10 milhões), se seu produto não tiver nenhum alinhamento com os hábitos de seus consumidores, a chance de dar errado é grande.
Apesar de tudo, conseguimos chegar a 4 milhões de usuários no período de 4 meses de lançamento, o que para um produto asiático, em uma cultura completamente diferente, não é tão ruim. Além disso, conseguimos elaborar parcerias importantes na área corporativa, o que nos auxiliou também no processo de incremento de usuários. O WhatsApp conseguiu o maior feito para qualquer produto seja ele digital, de entretenimento, físico, etc. Ele deixou de ser um produto e passou a se tornar um hábito do brasileiro e esse é o grande desafio do marketing. Não somente lançar, fazer barulho, comprar comerciais, gastar rios de dinheiro com pesquisa e desenvolvimento, mas pensar estrategicamente como aquele produto pode ser inserido no hábito de consumo do seu cliente/consumidor. Se fizer isso, a coisa anda sozinha.
Qual é o primeiro passo para um marketing bem feito?
Não seja o melhor, seja o primeiro!
O que uma empresa nunca deve fazer?
Se acomodar, o processo de marketing é muito cíclico, hoje você está no topo, mas nunca sabemos o dia de amanhã. Nessa etapa ter um bom planejamento estratégico é essencial, muito mais do que qualquer investimento.
Quando usar o endomarketing? Seria este uma boa opção para conter uma crise institucional?
Sempre! A empresa que não investe nela mesma tem uma grande chance de não ter bons resultados fora dela. E não me refiro a altos investimentos, seja um diretor que faz questão de dar bom dia para seus funcionários, seja um gerente que leva seus vendedores 1x por semana para almoçar, seja um coordenador que pergunta ao seu funcionário como estão as coisas em casa, enfim. Toda empresa é um organismo vivo composto por várias pessoas e pessoas precisam de estímulos, de reconhecimento e de atenção.
Com relação à crise, acho que com certeza é uma boa estratégia. A cadeia e o processo de marketing é um só, toda e qualquer crise tem ou teve alguma influência com algum processo interno que foi feito pela empresa e se é interno, é endomarketing.
De que forma você utiliza seus conhecimentos aprendidos em seu marketing pessoal?
Marketing pessoal é algo curioso, pois talvez seja o único processo de marketing que não fazemos planejamento, não traçamos estratégias e não fazemos pesquisa de mercado. Todos aqueles processos que falei ali em cima, dentro do marketing pessoal, ocorrem em nosso subconsciente e é por isso que algumas pessoas, por mais estudiosas que sejam, não conseguem desenvolver um bom marketing pessoal, mas que talvez desenvolveriam um excelente trabalho em alguma outra empresa.
Para finalizar, um conselho que daria para quem deseja seguir o marketing como profissão:
Seja curioso. O marketing é uma das poucas áreas a qual necessitamos de fato de muito conhecimento sobre outras áreas, como psicologia, antropologia, geografia, matemática, filosofia. Tudo isso, no final das contas, vai fazer diferença em algum momento de sua carreira. Portanto, seja curioso, arrisque novos caminhos, não tenha medo de errar, pergunte, leia, estude, viaje, mas nunca se esqueça de que a ideia não é ver o que ninguém nunca viu, mas pensar o que ninguém nunca pensou sobre o que todo mundo vê!