Então, hoje em dia, viver se tornou um risco para câncer?

Quando nós, oncologistas, somos confrontados com essa pergunta “Então, hoje em dia, tudo dá câncer? ”, existe um desafio em traduzir para nossos pacientes essas noticias, estatísticas e opiniões de especialistas. Hoje dia, existe uma tendência cada vez maior em tornar nossos hábitos de vida os vilões da medicina, e cobrar dos pacientes uma vida estritamente saudável.

Mudança de estilo de vida e rotina saudável significa uma vida totalmente livre de churrascos, doces e bebidas alcoólicas? Não, por uma série de motivos, não só a dificuldade de seguir tais restrições, mas devido ao fato de que somos seres sociais e precisamos cuidar também da nossa saúde psicoemocional. No entanto, devemos responder essa pergunta com responsabilidade e baseada em estudos clínicos sérios e com evidências médicas e científicas. Não só para esclarecer uma dúvida, mas pela importância de orientar corretamente nossos pacientes para que possam viver em equilíbrio e com tranquilidade. Radicalismos e extremos não são bem-vindos nesse cenário para nenhum lado da balança.

A verdadeira chave dessa questão é ajudar aos pacientes buscar um equilíbrio, ou seja, o problema não é a cerveja do final de semana, todavia a atenção tanto do profissional de saúde como dos pacientes devem ser na frequência do hábito e na quantidade. Para que se possa encontrar um equilíbrio, esse sendo diferente para cada paciente, faz-se necessário averiguar inúmeros fatores (condições sócios-econômicas, estilo de vida, predisposições, histórico familiar, comorbidades e outras).

Partindo desse raciocínio não podemos falar que existam regras que sirvam para todos os pacientes. Pois, como afirma o oncologista Siddhartha Mukherjee, escritor do best-seller e professor universitário em Nova York, “O normal nos ensina a regra, já o extraordinário nos ensina leis”, com isso podemos entender que para a maior parte das pessoas o equilíbrio se mostra a regra, mas como existem exceções, logicamente irá ocorrer casos no qual as recomendações médicas serão por uma maior restrição de hábitos. Ao final das contas, cada ser humano é um individuo único e deve ser tratado como tal.

Outro capítulo a parte dessa história é a respeito do açúcar, esse deve ser entendido como carboidratos processados, ultra processados e artificialmente produzidos. Esse assunto é mais complexo, pois se correlaciona a processos bioquímicos e até genéticos da população. O importante é que nosso corpo precisa de açúcar e carboidratos, uma vez que através desse obtemos a glicose que seria como o combustível de todas nossas células. A questão é que as células tumorais também se utilizam desse. Nesse contexto entra a importância da consciência alimentar e nutricional e não apenas o equilíbrio. Dessa maneira, não só podemos, como devemos optar pelos “açúcares do bem”, os carboidratos complexos como frutas, cereais e castanhas e deixar os “docinhos” para uma exceção.

Se informar sobre saúde e prevenção de doenças é de extrema importância para criar autoconsciência e autonomia na tomada de decisões. Assim, você se torna capaz de ponderar quais riscos podem ser evitados e minimizados para se que encontre então o crucial equilíbrio nos nossos hábitos de vida. O bom senso vem a partir do conhecimento, informações a fundamentar a formação, e deve ser o grande pilar para encontrar harmonia. Isso deve ser ainda melhor alcançado com o auxilio de um bom profissional da saúde para guiar nossos passos e auxiliar nas tomadas de decisão como detalhamos no artigo.

 

Fernanda Frozoni Antonácio

Médica Oncologista

 

 

 

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