Leyla Yurtsever Advogada, professora, articulista, Doutoranda em Direito pela UCSF, Mestre Pela Universidade de Léon, com especialização em Direito do Trabalho e Previdenciário pelo Ciesa, penal e processual penal pela Ufam.
Falar em culpa nesses tempos é, para muitos, antipático, antiético e impróprio, mesmo que indefinida em seu tipo. Seja a culpa religiosa, jurídica, social ou psicológica esta viola as relações humanas insuspeitáveis.
A ausência de culpa fere os valores morais, deturpa as relações e desumaniza o indivíduo. Num estado extremado pessoas matam, ferem, julgam e condenam, pois suas consciências estão insensíveis.
Um exemplo, é o caso da mulher pega em adultério, narrada no evangelho de João. Seus acusadores, fariseus e escribas, que eram intérpretes da lei mosaica tinham a morte como pena adequada, mas aquela mulher foi agraciada com o perdão de Cristo.
Para muitos este foi o clímax: o perdão imputado aquela mulher. Contudo, é o despertamento da culpa nas mentes cauterizadas daqueles que se achavam inculpáveis que empresta beleza a cena. A falta de misericórdia assomada ao complô para testar e induzir ao erro o nazareno mostrava-lhes uma culpa maior. Ao final, os acusadores retiram-se punidos pela própria consciência.
A vida pouco ou nada importava. Apenas a impiedade transvestida de moral. Qual o valor de uma vida? Quem tem o arbítrio para decidir sobre quem vive ou não? Os últimos acontecimentos mostram uma inversão completa.
É a certeza da morte que empresta valor a vida. A simples consciência da finitude certamente transtorna o mais simples dos mortais. É o encontro marcado a qual todos não desejam comparecer. A morte é o paradoxo da vida, é antinatural. Faz parte dela, mas é difícil aceitá-la.
Seja em decorrência de doença ou acidente é sempre uma ruptura drástica e radical. Tem que ser enfrentada sejam quais forem as crenças construídas. Tal resistência é potencializada quando, não o fato em si, mas os meios são torpes, vis e fúteis.
A Constituição Federal exalta a vida como bem maior a ser protegido. Transtorna, porém a realidade quando se percebe que a vida é reduzida a simples vontade de alguns, que pela negação ao pagamento de pensão, reconhecimento de paternidade,
impontualidade no pagamento de dívidas, rompimento no relacionamento, brigas no transito e tantos outros motivos menores solapam a existência e ceifam a vida de alguém de forma grosseira e indesculpável. Tornou-se noticia comum nos jornais o fato
de pessoas que, insensíveis a qualquer traço de humanidade, realizam injustiças, abusos, mentiras, egoísmos e outras iniqüidades.
A indignação é instintiva, mas, por vezes, sem qualquer eco prático. Ou seja, abandonamos as vítimas, calamos e tornamo-nos cúmplice do mal.
Talvez, a exemplo daqueles apedrejadores, precisemos fazer uma auto-análise a despeito de quão insensíveis ficamos perante a morte e as injustiças.
O que nós seres humanos temos que entender que, ao nascermos não trazemos nada. Morremos sem levar nada. E, no meio, brigamos por tantas coisas que não trouxemos e que também não levaremos. Se as pessoas entendessem que nesse mundo só estamos de passagem e que a nossa missão é fazer o bem. Deixando de lado as vaidades o mundo seria bem melhor.