Imanbek Zeikenov, produtor, perto da estação de trem onde trabalhava em Aksu, Cazaquistão, em 10 de julho de 2020. Foto: Devin Oktar Yalkin The New York Times

Conheça o jovem cazaque que tornou ‘Roses’ um sucesso

Imanbek Zeikenov tem 19 anos e vive com seus pais na pequena vila de Aksu, no Cazaquistão. Ele estudou engenharia ferroviária e, até dezembro passado, mantinha um emprego diário na estação de trem local. Tudo mudou no verão de 2019, quando descobriu uma música chamada Roses, do rapper guianense-americano Saint Jhn.

Na crua e vigorosa Roses, que já está disponível comercialmente há três anos, Saint Jhn canta (explicitamente) sobre uma noite de “festa animal”. Imanbek, que assina as gravações com seu primeiro nome e tem várias remixagens amadoras, decidiu acertar algumas deficiências da faixa: elevou a voz de Jhn em um grito maníaco e adicionou uma linha de baixo pesada e sintetizada e um tarol tocando ao fundo.

Imanbek postou seu remix nas redes sociais russas sem pensar duas vezes. Voltou alguns meses depois e ficou surpreso ao perceber que era uma estrela pop. “Fiz uma remixagem ilegal”, disse Imanbek por meio de um tradutor durante uma chamada realizada pelo Zoom. Ele estava sentado em seu carro recém-comprado e vestia uma blusa da marca Kappa, vermelha e branca. “Não sabia como promover a música, porque não sabia como ter autorização. Por isso, apenas a postei on-line e me esqueci dela. Alguns meses depois, explodiu no mundo inteiro.”

Quatro anos após o lançamento inicial de Roses, o remix de Imanbek é um sucesso internacional. A música ocupa o quinto lugar na Billboard Hot 100 dos Estados Unidos e alcançou o primeiro lugar na parada do Reino Unido. (O único outro single de Saint Jhn a alcançar o topo foi uma parceira com Beyoncé em 2019, “Brown Skin Girl”.) Mais importante, Imanbek agora não é mais um artista não autorizado. No fim de agosto do ano passado, ele assinou com a gravadora russa Effective Records. No mês seguinte, chegou a um acordo com Saint Jhn para lançar oficialmente um single da parceria acidental.

“Foi muito fácil. Dissemos: ‘Queremos bater esse recorde, está indo bem, queremos torná-lo legítimo como um single'”, afirmou Imanbek, descrevendo a breve reunião entre o gerente de Saint Jhn e o proprietário da Effective Records, Kirill Lupinos, que resultou no acordo.

Imanbek começou a receber dinheiro de Roses no fim de 2019, ganhando o suficiente para deixar o emprego e se proclamar músico profissional, embora Lupinos tenha dito que os cheques do primeiro semestre de 2020, quando o single explodiu, não seriam pagos até o fim deste ano. Apesar de sua parceria extremamente lucrativa, Imanbek e Saint Jhn ainda não se encontraram pessoalmente. Segundo o produtor, eles só se comunicaram por meio de mensagens no Instagram.

“Estou me apresentando na Rússia porque o país está me solicitando, exigindo que eu vá. Isso é surreal”, disse Saint Jhn em entrevista ao site Genius no ano passado, maravilhado com a reação do público a Roses, apesar de não falar inglês. Como muitos sucessos recentes nas redes sociais, Roses explodiu no TikTok, no início de 2020, quando milhares de adolescentes criaram coreografias fáceis de copiar.

Com o poder passando das mãos dos gigantes da indústria para os jovens ouvintes, que podem ampliar o público de uma faixa quase da noite para o dia, os sucessos da música pop estão se tornando cada vez mais difíceis de prever. Em 2015, uma música romântica chamada Cheerleader, escrita três anos antes pelo pouco conhecido cantor jamaicano Omi, ganhou um remix animado do DJ alemão Felix Jaehn. Omi ganhou três discos de platina nos Estados Unidos e teve o próprio desafio no TikTok.

“Olhando para trás, Cheerleader sempre foi uma música boa”, observou Omi, em uma entrevista por telefone, lembrando que os fãs costumavam cantar a versão original. “Acredito que em 2015 foi fácil abrir o mercado para um público diferente e amplo. Isso resultou em um momento totalmente novo.”

O pai de Imanbek é bombeiro e sua mãe trabalha em uma agência de turismo. Ele disse que cresceu em uma família com gosto pela música, mas acrescentou que não tem muitas influências musicais ocidentais. Em vez disso, inspirou-se na cena local de DJs e produtores e fez sua incursão na música eletrônica assistindo a tutoriais no YouTube.

No momento, Imanbek está planejando seus próximos passos. Em maio, lançou uma música eletrônica chamada I’m Just Feelin (Du Du Du)”, uma parceria com o produtor dinamarquês Martin Jensen. Ele ainda não tem prática como DJ, por isso os shows ao vivo (mesmo virtuais, por causa da pandemia) estão fora de cogitação por enquanto. Há uma imitação de Imanbek, com uma máscara semelhante a Michael Myers e um capuz da Effective Records, que transmite ao vivo no YouTube a partir de um estúdio com painéis de madeira. Assim que Imanbek aprender a se apresentar, ele planeja tomar seu lugar.

Por enquanto, ele ainda está fazendo música em seu laptop de dez anos, usando o software FL Studio. A única novidade foi um novo par de fones de ouvido, cortesia de sua gravadora. Os únicos lembretes recorrentes de sua nova fama são os e-mails, o WhatsApp e mensagens diretas do Instagram, que inundaram sua caixa de entrada com artistas perguntando sobre possíveis parcerias de trabalho. Imanbek faz uma captura de tela de cada um desses e-mails e mensagens para ter uma recordação pessoal, antes de enviar tudo para sua gravadora.

“Uma das últimas foi de Tiësto. Ele me procurou, disse que realmente aprecia o que estou fazendo e me desejou boa sorte”, contou Imanbek, referindo-se ao astro DJ. Imanbek sabe que está diante de uma oportunidade única na vida. “O importante é o que vem a seguir. Percebo a que ponto cheguei – meu sucesso é verdadeiramente global. Agora, preciso provar que não sou uma estrela de um único sucesso”, concluiu.

 

Fonte: Luke Winkie, The New York Times – Life/Style

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