Nos planos da marca desde sua fundação, a Reserva lança em julho sua linha feminina, batizada de Reversa. Disponível em corners dentro de dez lojas da grife masculina, deve ganhar endereço próprio ainda este ano

Em meados dos anos 2000, um carioca deu o que falar na moda masculina brasileira, segmento naquele momento não tão amplamente explorado no país.

Meio abusado e sem se levar muito a sério, aproveitou o olhar de outsider para questionar tudo e mais um pouco. Ganhou logo fama de marrento e acabou se demonstrando um dos maiores marqueteiros (no bom sentido) e comunicadores da moda nacional.

A Reserva e seu fundador Rony Meisler (ao lado do sócio Fernando Sigal) podem nunca ter tido a pretensão de reinventar a roda em termos de produto, mas a reinventaram na maneira de embalá-lo: sabendo que, para além de uma camiseta polo, vende-se paixão, conexão, experiência.

Dezesseis anos depois, a marca responde por 10% do mercado masculino brasileiro no segmento A e B e deve bater R$ 1 bilhão de faturamento em 2022. Rony segue empolgado e sedento por novidades, características que se refletem no time que formou em torno da marca. Em abril, a Reserva foi pioneira ao lançar uma coleção de NFTs – e vendeu 320 unidades em 50 minutos, um valor correspondente ao faturamento médio mensal de uma loja da grife –, em maio, a campanha de Dia dos Namorados trouxe um casal 70+ de roupa íntima em clima de pegação (que Rony obviamente anunciou em uma contagem regressiva como “uma campanha que quebraria a internet”).

Agora, chegou a hora de marcar presença no guarda-roupa das mulheres. Em julho, nasce a Reversa, uma label feminina que bebe do mesmo DNA baseado em malharia e jeans da marca-mãe.

Sua estreia acontecerá por meio de corners dentro de dez lojas da Reserva, de olho no fato de que, na verdade, a cliente já está ali: quase 50% da base consumidora da Reserva é atualmente formada por mulheres, que compram peças para namorados, maridos e familiares (ou inclusive para si).

“Hoje se fala muito em moda masculina no Brasil, mas, quando começamos, éramos um ovni, nos perguntavam por que não optamos pelo feminino. A gente não entendia de moda at all, adorava roupa, comportamento, a comunicação através da moda, mas não tínhamos experiência nesse segmento. A escolha pelo masculino foi por ele ser uma onda menor, que teria muito menos gente querendo surfar – ou seja, teríamos uma entrada mais fácil. O plano sempre foi, depois que a marca estivesse posicionada, ter também um dia o feminino”, conta Rony.

Como se sabe, essa não é a primeira incursão do grupo no universo delas. Mas diferentemente da Eva, grife mais fashionista fundada em 2012 e que teve suas operações encerradas no ano passado, a Reversa nasce como um “braço” da própria Reserva, baseando-se na mesma fórmula dela.

“A Eva até nasceu para ser o feminino da Reserva, mas por vocação e liderança acabou ganhando uma personalidade toda própria. Tinha um produto fantástico, uma base de consumidoras apaixonadas pela marca. Porém, estava em um lugar de mercado que não escalava para além daquele tamanho ao qual havia chegado. E, dentro daquele tamanho, não conseguia ser um negócio rentável, mesmo após quase dez anos.”

Jeans de todos os tipos de cortes e lavagens, camisetas com frases bem-humoradas e sobreposições são as estrelas da coleção de estreia.

“Apostamos em peças que vestem bem, confortáveis, atemporais. É uma etiqueta muito baseada em jeans, com opções mais urbanas para o dia e mais glam para a noite”, conta Kamila Lattanzi, diretora da marca Reversa, que estampa a foto desta matéria ao lado de Rony e Naiana Lemos, diretora de branding das marcas Reserva e Reversa.

O jogo de letras com o nome Reserva inspira toda a identidade visual da marca e jogadas de marketing, como tags do avesso, etiquetas para fora, letras rabiscadas e sobrepostas.

“Viemos para virar do avesso, de cabeça para baixo, experimentar, mudar a perspectiva, olhar para dentro. Será que o avesso não é o lado certo?”, provoca Kamila.

Uma década e meia atrás, anos-luz antes de “experiência” se tornar a palavra onipresente que é hoje, a Reserva investiu em lojas que ofereciam cerveja gelada, música animada e vendedores bons de papo que tratavam os clientes como amigos.

“Com a pandemia e o boom das vendas digitais, mais uma vez se levanta a possibilidade da morte da loja física. Pelo contrário, acredito que o varejo presencial sempre vai fazer parte da jornada de consumo, ele é complementar à internet. A loja física é um lugar de experiência: quanto mais ela proporcionar, maior será a retenção e a fidelização do cliente”, diz Rony.

Ainda este ano, um primeiro ponto próprio da Reversa deve ser inaugurado no Rio de Janeiro, seguindo a identidade visual da Reserva, mas repleto das próprias surpresas. Um bar (chá e gim substituem a cerveja) e uma área para customização de jeans estão nos planos para o espaço. “Queremos que, no fim, o jeans tenha a cara de cada cliente. O básico e o jeans te permitem que a personalidade de quem os usa venha à tona”, diz Naiana.

O lançamento é mais um passo do grupo Arezzo & Co rumo a consolidar-se também no vestuário feminino – que incluiu a aquisição da grife Carol Bassi, em novembro passado, e o lançamento da linha de vestuário da Schutz, em abril.

“Quando começamos a negociação da compra da Reserva pelo grupo Arezzo, em 2020, nosso plano de crescimento já incluía a linha feminina”, diz Rony, que também responde como CEO do AR & Co, o braço de lifestyle do Arezzo & Co.

Este ano, o Arezzo & Co registrou pela primeira vez um faturamento acima de R$ 1 bilhão em um primeiro trimestre, logo após levantar R$ 830 milhões no primeiro followon feito desde a abertura de capital do grupo (em 2011).

“O valor está sendo investido na expansão dos negócios que temos hoje, que possuem grandes oportunidades de crescimento. Até o fim do ano, vamos lançar também a Reserva Simples, uma marca de básicos democráticos. E ainda estamos de olho em marcas que tenham full potential de R$ 300 a R$ 400 milhões.”