Carola Giongo é jornalista com estudos em administração e publicidade. Com experiência em rádio, TV, web, e cobertura internacional no currículo, atualmente pode ser vista no programa TV Fama da Rede TV! e lida no site On The List, onde mantém uma coluna sobre #consumoconsciente e #sustentabilidade.

Aposta na combinação entre entretenimento e informação para comunicar iniciativas tão responsáveis quanto interessantes e propor soluções impactantes, ecologicamente aceitáveis, socialmente responsáveis, economicamente viáveis e sensorialmente instigantes de moda, design e life style.

A partir de hoje, acompanhe a coluna dessa magnífica escritora!

A Evolução dos “Sapatinhos de Cristal”

Trajes de reis e rainhas, príncipes e princesas são assunto desde que o mundo é mundo, seja nos contos de fadas ou na vida real! De Cleópatra a Lady Di passando por Luís XV, a realeza continua a influenciar o mundo da moda. Prova disso é a alavancagem de vendas de peças usadas pelas realeza inglesa.

Uma delas em especial chamou atenção recentemente quando Meghan Markle ainda era Duquesa de Sussex e continua conquistando súditos: os tênis da marca Vert, que têm DNA brasileiro e são conhecidos como os sneakers mais sustentáveis do mundo. O modelo usado por Meghan em uma viagem à Austrália virou “febre” mundo afora. Meses depois visitei lojas em São Paulo atrás de um modelo parecido e o que ouvia dos vendedores era “O tênis da princesa? Esgotou!”

Você já deve ter visto a letra “V” nos pés de “nobres de outros reinos”, como os hollywoodianos Reese Witherspoon, Katie Holmes e Eddie Redmayne. Entre os fãs da marca no Brasil estão Sérgio Guizé e Rainer Cadete.

UM PÉ NA FRANÇA, OUTRO NO BRASIL

A marca também conhecida internacionalmente como Veja aposta em uma linha de produtos com estilo atemporal, design francês e produção brasileira. Grande parte dos componentes são produzidos nas regiões Amazônica e Nordeste do Brasil através de processos que garantem independência alimentar e preservação de terras. Com uma estratégia de negócio que não ultrapassa os limites sustentáveis de crescimento, a marca lançou seu primeiro modelo de corrida no ano passado – depois de 16 anos de atuação.

O modelo Condor foi desenvolvido para oferecer um tênis esportivo sem derivados do petróleo na sua composição – correndo contra 99% do mercado de produtos de corrida. Invés de petróleo, biomateriais como óleo de mamona e de banana, casca de arroz e fontes renováveis da cana-de-açúcar potencializados por tecnologias como a de um amortecedor de látex natural – para maior absorção de impacto durante a corrida e um retorno de energia de 55%. Tudo aliado a questões técnicas de desempenho em corridas médias de 10 a 15 quilômetros.

A marca também disponibiliza um vídeo com instruções simples de limpeza dos produtos. Prática que todas as marcas deveriam adotar e conhecimento fundamental para quem investe em peças de luxo e quer fazê-las durar!

Muito do sucesso da marca diz respeito às boas práticas na confecção dos calçados. E para nossa sorte, eles são feitos no Brasil!

“YES, NÓS TEMOS BORRACHA”

A Amazônia é o único lugar no mundo onde as seringueiras (árvores fontes da borracha) crescem em estado selvagem. Sua preservação depende da exploração sustentável. A Vert compra a borracha nativa diretamente de associações de seringueiros na Amazônia pagando um preço diferenciado pelo látex que compõe 30 a 40% de seus solados. A valorização do trabalho do seringueiro ajuda na luta contra o desmatamento. Atualmente (SET/2020), a Vert paga o preço comercial da borracha de R$ 2,50, somado ao prêmio adicional de R$ 1,00 pela qualidade e R$ 4,50 pela conservação da floresta no uso da terra. No total as famílias parceiras recebem R$8,00/kg de CVP. Isso é 220% superior ao preço de mercado segundo a assessoria da marca. Já as cooperativas e associações parceiras receberam R$ 1,00/kg a mais. Para completar, famílias, cooperativas e associações que atingem a meta de produção recebem pares de tênis da marca. O que coloca quem produz “em pé de igualdade” com o consumidor final: famosos e formadores de opinião. O efeito psicológico deste acesso não pode ser ignorado. Bem como a percepção de um produto tão brasileiro ser desejo de consumo no mundo todo. Não é de hoje que precisamos de um pouco de auto-estima por aqui!

Do Brasil para o mundo e para os brasileiros

 

O algodão orgânico brasileiro é uma das estrelas entre as matérias-primas da marca e garante que a proteção ao meio ambiente caminhe junto com o desenvolvimento econômico de 700 famílias que vivem da agricultura orgânica no semiárido nordestino. Cultivado no mesmo campo em que alimentos básicos da região como milho, feijão e gergelim são plantados sem agrotóxicos, adubos químicos ou transgênicos, ele também ajuda a manter a riqueza da nossa biodiversidade.

Em 2019 o valor pago pela pluma foi cerca do dobro do preço da comodity (R$12,57/kg) com previsão de aumento em 2020 (R$13,20/kg), além de prêmios para incentivar processos regenerativos como a Agroecologia (R$ 2,00 a + por quilo aos produtores e R$1,00 às associações).

 

OPORTUNIDADES

O que ainda não é desenvolvido de forma sustentável dentro do processo da Vert pode ser uma oportunidade para novos fornecedores. Os cadarços, por exemplo, não são de algodão porque a quantidade é considerada insuficiente para produção exclusiva. Os ilhós não contém níquel, mas são de metal e sua origem não é controlada. Um plano de reciclagem dos tênis ainda não foi estabelecido. Utilizar tinturas vegetais e não poluentes é um dos projetos em andamento da marca. Em relação ao COURO, a marca admite não ter controle completo da cadeia de produção, tendo como medidas de precaução o uso de baixos níveis de cromo na curtição – que diminui drasticamente a poluição nas águas residuais e os impactos ambientais – e a escolha de fornecedores de fora da Região Amazônica – ” onde a criação de gado é um fator principal do desmatamento”.

É importante lembrar que o desmatamento está diretamente ligado às queimadas que atualmente assolam o Pantanal, o Cerrado e parte da Amazônia. Daí a importância de investir em marcas responsáveis.

Qual é a “pegada” que você deixa na moda?

Reese Witherspoon “Legalmente Sustentável” usando Vert

 

APROVEITANDO…

Não confunda! O algodão orgânico nem sempre é sustentável e vice-versa. São técnicas diferentes, mas não necessariamente excludentes. Enquanto o Orgânico não permite o uso de defensivos químicos e tecnologias como sementes transgênicas, o Sustentável usa tecnologia para maximizar a produção sem descuidar dos recursos naturais e humanos envolvidos no processo. Um exemplo de algodão sustentável, mas não orgânico é o brasileiro naturalmente colorido que ganhou espaço na indústria têxtil a partir da melhoria genética da qualidade da fibra desenvolvida pela Embrapa.

 

Diferente do que foi amplamente divulgado na mídia, o algodão naturalmente colorido não é uma exclusividade brasileira. Mas o Brasil é o maior produtor de algodão sem irrigação do mundo (sequeiros). Para entender a riqueza disso pesquise sobre a “maldição” do Mar de Aral. Assunto para outra conversa!

Continue acompanhando a coluna para saber mais sobre marcas e iniciativas que combinam moda, design e tecnologia com desenvolvimento sustentável e consumo consciente!