O Cardiologista Aurélio C. Pinheiro, PhD e Pós-Doutor na área, fala sobre a necessidade de se avaliar pacientes em tratamento para o câncer devido ao risco de insuficiência cardíaca
Por que o paciente com câncer precisa consultar um cardiologista?
Em uma edição do Jornal Europeu de Cardiologia (EHJ – European Heart Journal), pesquisadores demonstraram que pacientes com diagnóstico de câncer apresentam uma taxa de mortalidade até 6 vezes maior devido a problemas no coração quando comparados com pessoas sem câncer. O tratamento inclui medicamentos e também radioterapia, que possuem efeitos colaterais no coração e nos vasos. Os problemas cardíacos constituem a principal causa de morte nesse grupo de pacientes, além do próprio câncer. E, um dos últimos congressos mundiais de Cardio-Oncologia em São Paulo (outubro de 2019), foi reforçada a necessidade do acompanhamento de perto desses pacientes. O que nós Cardiologistas fazemos é garantir que o paciente sempre receba seu tratamento sem interrupções e isso é alcançado com uma boa comunicação entre o Oncologista e o Cardiologista.
E quais são os problemas mais comuns ao coração nestes pacientes?
A principal preocupação durante o acompanhamento do paciente em quimioterapia é o aparecimento da insuficiência cardíaca, que é o resultado de uma diminuição na força de bombeamento do coração por causa da ação direta da medicação no músculo cardíaco. O exemplo mais comum é o câncer de mama e as mulheres são as mais suscetíveis a esse problema cardíaco. Até pouco tempo atrás, não se divulgava muito intensamente essa associação de câncer de mama e doença cardíaca na população. Algumas publicações de sociedades de cardiologia nos Estados Unidos e Europa ajudaram a divulgar mais esse conceito. Em outubro de 2019, uma reportagem extremamente importante de uma rede de televisão americana tornou mais pública a necessidade de que pacientes submetidas a tratamento para câncer de mama devem procurar atendimento cardiológico para que se possa fazer o diagnóstico de qualquer alteração no coração de forma mais precoce possível.
Qual protocolo oferecido no seu consultório para atender esses pacientes em tratamento contra o câncer?
Podemos fazer avaliação clínica com a realização de exames específicos de eletrocardiograma e ecocardiograma convencional. O eletrocardiograma é muito importante porque algumas medicações ou algumas combinações de medicações de quimioterapia podem causar alterações na condução elétrica do coração e o eletrocardiograma realizado durante a consulta é essencial. Para os pacientes que ainda irão começar a receber medicação quimioterápica é parte do protocolo a realização de um ecocardiograma antes dos ciclos de tratamento. E entre os ciclos, o exame de ecocardiograma é feito periodicamente para que qualquer anormalidade do coração possa ser diagnosticada logo.
Existe alguma coisa que pode ser feita para evitar esses efeitos do tratamento do câncer no coração?
É difícil, com o conhecimento disponível atualmente, se prever quem vai ter complicações no coração e quem não vai. Por isso o acompanhamento deve ser para todos os pacientes com câncer e de preferência para sempre porque há uma chance de complicações mais tardias no coração em alguns casos. A avaliação cardiológica deve incluir também análise de exames de sangue com os valores do colesterol e triglicérides dentre outros e avaliação da pressão arterial que também pode se alterar por causa do tratamento.
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