Amazônia: roteiro desbrava o Parque Nacional de Anavilhanas

Osilêncio é ensurdecedor. A areia da praia é alva de apertar os olhos, fininha de acolher os pés. Lá no fim, a floresta é majestade. Dentro do rio-mar, seu corpo se entrega ao banzeiro das águas. A poucos metros dali, um grupo de botos dá as boas-vindas. Eles vão chegando, espiando, se apresentando.

Essa é a beleza de se aventurar pela Ponta do Camaleão, uma das tantas praias do Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas, desde 1981 uma unidade de proteção integral da natureza que abriga mais de 400 ilhas de floresta virgem. Na vazante do rio Negro, entre setembro e janeiro, as areias surgem com vontade, um sem-fim de ilhas solitárias e aprazíveis. Navegar pelo Negro é preciso. 

O Mirante do Gavião, hotel projetado por patricia o’reilly. Ao lado, a stylist da Vogue Alexandra Benenti (Foto: Giampaolo Sgura / Arquivo Vogue, Thais Antunes, Ricardo Azoury/ Pulsar Imagens, Divulgação e Reprodução Instagram)
 

Mas a Amazônia não é para principiantes, dirá você. Agora já é, posso aconselhar. A começar pelo advento do hotel Mirante do Gavião, explorar Anavilhanas se tornou uma experiência mais confortável.

Você voa para Manaus e o transfer de quase três horas te leva por uma estrada deveras trepidante até o município de Novo Airão. Vale a viagem: para além da exuberante natureza, tudo no lodge (com diárias que vão de R$ 894 a R$ 1.331) é de bom gosto.

As sete habitações projetadas por Patricia O’Reilly, sob os dogmas da arquitetura sustentável, rendem homenagens às tradições navais do lugar – são embarcações invertidas, uma ideia tão surreal quanto bonita.

 

No entorno, o paisagismo de Clariça Lima se debruça sobre uma coleção de plantas exóticas brasileiras. Seu bom gosto é igualmente notável na decoração – você gosta de voltar ao seu quarto não somente pela potência do ar-condicionado. Outra volta sempre festejada é ao CamuCamu, o restaurante do hotel. Um caso de amor o ceviche detucunaré da chef Débora Shornik, mãos elegantes para pratos perfumados que desbravam os sabores locais – a gastronomia do Norte é um desbunde. 

À esquerda, ambiente do restaurante CamuCamu; e, abaixo, prato de cará roxo cozido (Foto: Giampaolo Sgura / Arquivo Vogue, Thais Antunes, Ricardo Azoury/ Pulsar Imagens, Divulgação e Reprodução Instagram)

Mas a grande aventura é lá fora, e os hóspedes podem navegar pelo Negro em passeios de um dia em lanchas confortáveis, munidas de aperitivos e drinques, em busca de experiências sensoriais.

Para além das praias e seus botos, há incursões pela floresta – a trilha que encontra a Gruta do Madadá é fácil e oferece uma bela mostra do clima uterino-úmido da mata, do ciclo ancestral da flora e da população de formigas que nunca vamos conseguir contabilizar. Encare o programa com botas de cano longo (galochas são bem-vindas, aquelas sempre onipresentes nos festivais de música na Europa) e evite o azul – cor que tende a atrair insetos. Deixe os colares em casa, que o enrosco é certo.

Para os destemidos (as crianças amam), o Mirante do Gavião oferece um pernoite na floresta, rede embalada pelas estrelas, jantar à luz da lua – adicione aí um casaquinho leve ao dress code, porque, acredite, na floresta também faz frio.

Se a ideia é se aventurar além, há as expedições fluviais da Katerre, que navega com dois barcos de madeira confortáveis por quatro municípios banhados pelo Negro. Para o Indiana Jones em você, permita uma jornada até a Cachoeira do Eldorado, a mais alta do Brasil, na Serra do Aracá – depois de dez dias navegando e cinco acampando na selva. Too much? Então pegue mais leve e desça o grande rio deso de São Gabriel da Cachoeira, divisando praias de areia e pedras, montanhas e paisagens exóticas, com nenhum turista a não ser vossa senhoria.

Áreas de baixíssima densidade demográfica e altas doses de matizes, dos verdes todos aos abundantes azuis, cujas nuances você vai percebendo no passar dos dias, quando a mente se aquieta, o celular não te atrapalha,o Instagram não carrega… Abrace o detox digital. E a imponente presença da sumaúma, a mais alta e sagrada árvore, cultuada por dezenas de tribos indígenas como a “mãe da humanidade”. Essa escada para o céu chega a 65 metros – muito apreciada por madeireiros, diga-se, em nota triste. 

Alexandra com boto nas águas do rio Negro; Jeff Ares e Thiago Azambuja nas raízes de uma sumaúma, árvore típica da região; a Cachoeira do Eldorado; e uma das ilhas de Anavilhanas (Foto: Giampaolo Sgura / Arquivo Vogue, Thais Antunes, Ricardo Azoury/ Pulsar Imagens, Divulgação e Reprodução Instagram)

Mas há as felizes. Hospedar-se no Mirante é fazer um bem à floresta e à sua gente. O lodge é um empreendimento filantropo: cerca de 70% do lucro com sua operação é devolvido a duas iniciativas: a Fundação Almerinda Malaquias, de geração de renda local por meio da marchetaria, e a Escola Viva Amazônia, que dissemina pedagogia construtivista no rio Jauaperi.

“Comecei a navegar pelo Negro em 2004, conhecendo as pessoas e tomando contato com a realidade social e ambiental”, diz Ruy Tone, sócio-fundador do Mirante, alma nômade que sem alarde fez de suas empresas de turismo mantenedoras de projetos sociais. “Enxerguei um potencial na Amazônia, mas encontrei uma infraestrutura muito complicada. Entendi que teria que buscar um processo de empresa local, uma conexão maior com o ambiente, vínculo com comunidades.” E o hóspede, sem saber, engaja-se nessa dinâmica ao comprar um pacote ali.

Desde 2004, quando Ruy começou a colocar em prática seu projeto, a demanda pela Amazônia, que era tímida, só cresce. “Aumentou, inclusive, o número de famílias que vêm para o hotel e navegam”, observa Ruy. “Há uma procura alta hoje para encontrar um lugar em que as crianças possam fazer coisas de criança, estar na natureza…” Para reconectar adultos, o programa também funciona. O hotel tem até um bom wi-fi, mas a ideia é navegar pelo rio, não pela internet.

Reservas pelo Booking.com

Curte o conteúdo da Vogue? Ele está no nosso app e agora também no Globo Mais, o app que é muito mais do que uma banca. Nele você tem acesso a um conteúdo exclusivo em tempo real e às edições das melhores publicações do Brasil. Cadastre-se agora e experimente 30 dias grátis.

Fonte: Vogue

Compartilhe

Artigos Relacionados