Nancy Segadilha é a cara da inclusão no Amazonas. Concentra na voz e na postura firme e convicta, a força de quem, ao perder os movimentos do corpo físico, desviou das limitações e projetou no discurso a luta pela igualdade de direitos, acessibilidade, e principalmente, a inclusão para todos. Especialmente para Em Visão, a amazonense de 34 anos mostrou atitude e personalidade durante o ensaio fotográfico defendendo a #Inclusão -Dever de Todos- lançando sua campanha de conscientização.

“Somos muito mais do que nossas limitações físicas aparentes. Somos seres humanos plenamente capazes de amar, de sonhar, de trabalhar para conquistar o sustento de nossas famílias, de lutar para sermos respeitados independe de sermos pessoas com deficiência. Juntos vamos derrubar as barreiras atitudinais e acabar com o preconceito ”, declarou.

Advogada, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Amazonas – CONEDE Segundo ela, o fato de conhecer seus direitos e de ter tido o suporte financeiro da família para poder receber os tratamentos adequados, após sofrer um acidente que resultou na perda de todos os movimentos, há 13 anos, não a protegeu do preconceito de uma sociedade que ainda não vive a inclusão. Ela conta que sofreu maus tratos no hospital em SP, preconceito ao retomar os estudos após o acidente, em lugares públicos e até mesmo em grupos de advogados. 

“Cada desrespeito que sofri e que ainda sofro me motiva a lutar com mais força para que a sociedade seja de fato inclusiva. Eu sou ser humano, fico triste, magoada, com raiva e já chorei por ter sido tratada de forma desumana, ter me sentido diminuída pela minha condição de PCD e por não ter o meu direito respeitado. Se, mesmo conhecendo a Lei, eu passo por isso, imagino como sofrem os que não conhecem seus direitos, as mães e pais que tem filhos com deficiência e as PCDs que querem ser inseridas no mercado de trabalho, mas não encontram postos de trabalho dignos”, desabafou.     

Durante nossa conversa com a advogada, ela demonstra no olhar, na forma de falar e nas palavras a indignação com a segregação social dos deficientes e os rótulos que ainda hoje alimentam o preconceito. Coragem e força, Nancy demonstra ao falar sobre a inclusão e afirma que essa mudança começa com a educação.  

Ao perguntar se ela verdadeiramente acredita que é possível mudar a consciência social para que todos se unam em prol da igualdade, acessibilidade e inclusão, ela responde sem hesitar. 

“Você acredita em milagres? Eu estou viva hoje porque milagres acontecem todos os dias. Assim como eu, milhares de Pessoas com Deficiência superam suas limitações diariamente, constroem novas histórias e conquistam seus espaços sendo respeitadas por aquilo que são, seres humanos fortes e não apenas um deficiente. Hoje eu vivo para conquistar um novo milagre, a inclusão. A minha bandeira é pela inclusão das crianças PCDs nas escolas, e que estas sejam acolhidas com amor pelos professores e pelos colegas, que os familiares de PCDs possam acompanhar os tratamentos dos seus entes queridos, e que sejam os melhores possíveis para que cada um tenha mais qualidade de vida, levanto a bandeira da inclusão para que a sociedade entenda definitivamente que cumprir a lei de acessibilidade, vai muito além de prioridade em filas e vagas de estacionamento, não é favor, é um direito de cada PCD”, defendeu.      

Sobre o mercado de trabalho, Nancy cita a lei de cotas (8.213/1991) que assegura vagas para PCDs em empresas com ou mais de 100 funcionários. Porém, ela critica que a maioria dos cargos são apenas para o chão de fábrica e que não há equiparação de oportunidades, assegurando que uma pessoa com deficiência possa progredir em funções. Para Nancy Segadilha a inclusão acontece quando a sociedade aceita a Pessoa com deficiência, respeita a sua limitação e quebra a barreira atitudinal, o olhar de preconceito e os rótulos.

 “Quando a sociedade aceitar a Pessoa com Deficiência, ela vai deixar o olhar como coitadinho e passará a enxergar o ser humano e isso abrirá novas oportunidades para que possamos viver mais e melhor, e é para isso e por isso que eu luto”, finalizou.

@nancysegadilha