O show de Chicho Chico foi uma amostra de que há uma energia represada na juventude pronta para explodir em alegria
Francisco Ribeiro Eller é Chico Chico. O músico é intérprete e compositor, dono de uma presença de palco inigualável de quem já está acostumado de lá estar. Mais de uma década de cena trazem essa bagagem para esse carioca de 28 anos que esteve na sexta-feira, 26 de novembro de 2021, com sua banda no Studio SP, em São Paulo.
Estar é um modo prático de dizer: ele deixou sua alma gravada na casa de show e essa impressão não vai sair da memória de quem acompanhou as pouco mais de 1 hora e 50 minutos de apresentação (que teve início por volta das 22h50 e durou até meados de 1h da manhã do sábado). Ele cantou músicas de seu novo projeto “Onde?” e levantou os jovens paulistanos.
A mistura intensa das regravações de músicas já conhecidas da população, como “Árvore“, de Chico César ou com a força de “Dona Maria de Lourdes“, de Sérgio Sampaio estiveram entre os destaques.
Aliás, logo no início, Chico Chicho mostrou o poder do seu carisma ao conduzir o coral de pelo menos 300 pessoas ao fazer a plateia participar, cantando e aplaudindo, assim como os versos da música “Dona Maria de Lourdes” recita.
Quem esteve no Studio SP presenciou uma mistura de ritmos potente, uma revisitação a títulos conhecidos, mas completamente repaginados e com ousadia; muita ousadia. Há quem saiu de lá com a certeza que ouviu referências de rock dos anos 90, mpb, reggae, forró, coco de roda, maracatu, samba e derivados (pelo menos esse que vos fala). Chico e banda colocaram todos para dançar e emocionaram também.
A presença de Chico Chico
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Percebeu que falo de poucas músicas e por alto, não é? Na verdade, não quero dar spoiler (se é que existe isso em apresentações musicais)? O repertório está disponível em diversos lugares (YouTube, Spotify, etc), mas o segredo está em como tudo acontece… E aí, não tem jeito: tem que presenciar a performance. Ver como Chico Chico, banda, DJ e a iluminação trabalharam para envolver a plateia.
A experiência sensorial vai além do ouvir. A miscelânea de ritmos, a ousadia de dar voz a cantores mais tradicionais o frenesi da juventude e tudo isso aliado ao trabalho do artista ao vivo, são catalisadores para dar a uniformidade que a apresentação precisa.
Fui ao backstage e o encontrei simpático, atendendo fãs. Questionei como o retorno tem sido e ele sem hesitar gritou “Espetacular!”. Soltei uma pergunta mais pretensiosa, tentando emplacar quem sabe a agenda dele em Manaus. Empolgado ainda e cercado de frisson, ele disse: “Assim que surgir a oportunidade, cara! Eu vou, sim! Com certeza!”. Com os olhos, percebendo o celular, ele perguntou: “É uma entrevista?” e sorriu largamente. Ao que respondi que “mais ou menos”. Nos cumprimentamos e ele mandou um “até a próxima”.
É possível que muitos tenham notado o sobrenome familiar. Chico é o “meu amor, meu Chicão” de “1º de Julho“, cantada por sua mãe, Cássia Eller (1962 – 2001). “Como assim você nos dá essa informação no final?” talvez você, se não soubesse, me perguntaria. Apesar de o incrível talento e da semelhança inegável (e de muitas vezes ser apresentado como o filho do ícone que a Cássia foi), a sua carreira foi construída com uma assinatura própria. Cássia e Chico são sóis muito brilhantes, porém diferentes.
E por falar no assunto, ouvi-lo cantar “Mãe“, música que compôs em homenagem à Maria Eugênia, viúva de Cássia Eller e segunda mãe de Chico, é emocionante.
Studio SP em Ebulição
Não havia como não perceber que o interior da casa de show (que funcionou com 70% da lotação) parecia um organismo vivo. Um tipo de criatura que emanava euforia e emoção. A pandemia de Covid-19 mudou algo em todos nós, algo que talvez não vá embora tão rapidamente e é perceptível que há uma necessidade catártica. Para muitos, a maestria de Chico Chico no palco não será esquecida tão cedo. Talvez por isso ele tenha brincado um pouco com a palavra “medo” (constante em diversas letras que levou ao palco).
A pista, a “mini-arquibancada”, o primeiro-piso em formato de camarote improvisado, tudo teve uma energia própria quase tangível. O artista conseguiu unanimidade em praticamente tudo, ensaiando inclusive, um coro de protesto contra as condições atuais do Brasil. Testemunhar a apresentação de Chico tornou possível prever o que o brasileiro está represando para liberar em eventos icônicos, como o Carnaval.
Estiveram presentes entre algumas personalidades os cantores e compositores Pedro Mann e Esteban Tavares e a chef de cozinha e empresária Paola Carosella.